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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Menino


Porque havia sido escolhido o local,
Delimitado, sancionado.
Porque os que para ali se dirigiriam saberiam onde estariam.
As arestas foram então distendidas.
Agigantaram-se as certezas, pois um local havia sido estremado,
Cumprindo assim os vaticínios.
Todos os de sangue semelhante, e os de sangue requerido,
Singraram então as correntes da dúvida e da perspectiva.
O medo do incógnito e do real dos umbrais do mundo.
Não exigir ser livre e não estar sujeito,
Souberam depois, algo havia sido solicitado.
Sem égide, rito, ícone ou figura.
Indelével no mundo, o abstrato da raça,
Pediria apenas tangível reverência
Pois sabia, que dali a frente, o absoluto, ruíra.
Uma noite eles chegaram.
Os pastores em seu movimento anunciaram.
Todos os pequeninos acorriam.
Vozes sussurrantes  no dia, veementes ao escurecer,
Floridas de histórias, eivadas de sonhos.
Luz a industriar a melancolia em esperança
Aclarar a decência, sanar o mal,
Sarar a fome e a sede de pão, verdade e amor.
Naquela noite, três homens estiveram presentes
Ao nascimento do menino.
Os pergaminhos riscados partiram túrgidos da história,
Da parturiente e do menino.
Transformaram-se em lendas, escárnio, canções,
Blasfêmias, sonhos, relicários, livros e esperanças além.
Naquela noite a palavra fez-se carne.
Morreram dúvidas e a melancolia.
A vida tornou-se mais do que nascer ou morrer.
A luz do mundo eclipsou a do Oriente, do Ocidente e mais, 
Provou que a incerteza, sempre esteve, nos outros,
Fé não era mais magia,
Fora da lógica ilógica das religiões, subsistia a palavra,
Além de toda e qualquer desesperança.

De Heróis a Dragões


            “...Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu, na figura de um bravo feiticeiro, a quem a história não esqueceu”
            Confortando obviamente a Nina Rodrigues, o primeiro, talvez a afirmar que “todas aas classes sociais do Brasil, compartilham feitiços”, acreditamos ter visto Francisco Nascimento e João Candido, um dia caminhar por sobre essa terra. E por que não dizer? Afianço então solto ao repto. Quantos mais foram grandes e não se sabe? Os dois aí de cima, são heróis negros verdadeiros, o dragão original e sua reencarnação.
            Heróis reais, que apostaram o mais caro ao ser humano. A vida. Heróis, não de latão ou bronze, como os que se avizinham nas praças. Que os pombos nos vinguem!
Sátira e liberdade. Luiz Gama e sua verdade. O negro que se fez advogado e defendia qualquer um que exigisse alforria, do eito, da clausura, da venda obrigada e de serventia.
            Quando afinal, seus nomes por hagiologia, se ouvirão nas esquinas, ribombando nas lonjuras desse Brasil?
            Darcy Ribeiro dizia: que todo brasileiro, pleiteia ser descendente de índio, a identificar-se como negro. Mesmo um bugre, trazido na correia e abaixo de chibata pé no chão seminu, imberbe, seria preferível tê-lo como avô. O brasileiro talvez o creia mais altivo.  Preferiram, talvez, serem netos de Peri há de um mero passageiro de “tumbeiro”.
            Quantos conhecemos de cabelos alvoroçados, narinas túrgidas lábios espalhados, pele trigueira? Alguns proferirão rápido: meu avô índio, de sangue Goytacaz, isto é dele, chefe nobre da tribo de Campos. Uma avó perdeu-se, que fazer?  Por isso o tempo não me marca, os anos não me chicoteiam.
            Uma forma velada de racismo narcisista retrógado, se isso é possível. Uma parte pretensamente baseada na pureza dos índios, conforme escritos de Rousseau, Montaigne, outra parte claro, flutuando. Aí sim, na mais pura ignorância.
            Poucos quererão ou afirmarão impávidos. Meu sangue negro trago impresso em minha fronte, meu cordão de sangue, herdei de minha mãe, pai, avô ou avó, essa perene certeza, que minha pele configura
            Mãe Aninha Tia Ciata, Mãe Nassô, Juca Rosa—Axé!


domingo, 5 de dezembro de 2010

Robson Crusoé

   
Tenho tempo bastante,
Comida bastante,
 A bebida que suporto
E toda a raiva do mundo.

Telegrama fonado segue...
Quatro palavras e uma obscenidade.

Toca o telefone, não atendo.
Ponto parágrafo íntimo.
Eu, o desmoronador de mim mesmo, insisto.
Aquele que acusado foi, de amar só a si,
Tropeça agora em seu festim, suspenso em bravatas e sedado.


sábado, 4 de dezembro de 2010

Reviravolta Rio

            O Titãs: as polícias civil e militar reunidas e reforçadas, a elementos das forças armadas desbarataram parcialmente á quadrilhas do tráfico. Trouxeram mesmo pelo cabresto a Zeu, corruptela do deus grego. Músculos aparentes, pelos fartos e olhar de corça assustada. Uma Titanomaquia escrita pelo crioulo doido do Stanislaw. Á vera, um show ao nível dos perpetrados pelo EUA, por aí e acolá, morram de inveja, americanos brancões!
Foto: francês JR - Mulheres São Heróis-Providência-RJ
  
            Como dizia, Zeu foi destronado. Assistimos mesmo a diversos Mercúrios, com suas lépidas sandálias, voando baixo em direção a outro morro enquanto Cronos despejava da sua ira em forma de chumbo quente. Cá prá nós, como tinha mensageiro esse Zeu!
            Outra vez, Zeu, acorrentado e meio que cabisbaixo, seguiu para o Hades. E aí passamos a aulas de decoração, logística, e destemperos mil.
            Como carregar toneladas de erva ladeira abaixo. De novo, só entre nós... Só duzentos quilos de pó? Três toneladas de maconha, armas a mancheias e só aquilo de pó? Tem mais aí! Revira esse covil.  O que segura à boca é o pó. Pelo baixo preço maconha é ralé. Não dá para levantar o arreglo só com erva. As pedras e o pó são o “leitinho das crianças”, Titãs e engravatados.  Revira isso aí, pô!
            E os destemperados! Cansados de ter que construir programas apoiados no que a Globo bota no ar, é, existem programas que sem a Vênus platinada, não teriam porque existir. As tv’s descobriram que programa policial continua vendendo, então trouxeram para tela ao “Patrulha da Cidade”, só que apimentaram ao troço. O apresentador agora se transmutou em juiz, advogado e promotor. Um dos mais famosos entrevistava mesmo ao Senhor Chefe da Polícia civil, quando aproveitando que ele trocava de cadeira, (o entrevistado anterior retirava-se) e virando para a câmera, vociferou, naquele tom e com a boca cheia de algo, (creio que algodão): “Não falei que tinha que escrachar?” Seguindo outras diversas afirmações peremptórias, enquanto o entrevistado olhava, meio que constrangido.
            Veremos surgir agora á diversos “pais da coisa”. Vaticinadores de plantão. Aqueles que agouram e agouram até o momento em algo ocorre, e eles possam dizer: “não disse?”
                        Falta abrir os livros da contabilidade e refazer o caminho tomado pela grana e chegarmos ao verdadeiro luxo, aos Olimpos.
            Outra coisa, do mesmo. Se os livros ficaram, a fuga foi muito rápida, não deu para prender ninguém, não? Daquela locanda, ninguém brotou não...
            Mesmo assim, de qualquer ângulo, quesito ou avaliação, foi muito bom. Pela primeira vez, consideramos como muito proveitoso, um político visitar a outro país, que está ganhando sua luta quanto a máfia em áreas pobres, retorna ao nosso país, implanta e adapta essas idéias.
            Pela primeira vez, um político, arregimenta quadros historicamente e ridiculamente tão díspares quanto nossas forças de defesa (e ataque) e faz com que elas trabalhem em uníssono, perfeito. Só não podem parar. Pontual só o sol. A bandidagem continua a operar. Mesmo onde existem as UPP’s, o tráfico continua. Acabaram as armas em riste, os bailes funk’s madrugadas adentro, está ótimo, mas não perfeito.
            Faltam ainda os investimentos nas áreas carentes, falta retirarem os que habitam as áreas de proteção ambiental, turísticas e de nascentes.           Falta um mundo de coisas. Mais pelo menos foi dado à partida, na qual a população está apoiando e almejando de fato dias melhores “... pro dia nascer feliz...”


domingo, 28 de novembro de 2010

O Flâneur Ataca


            Exercitando a minha porção “flaneur”, uma idealização de Baudelaire, que se aplica a todos os que andam e amam belas cidades como a nossa, e fruem desse caminhar muito mais que só a vista, deslizava, eu, pelo centro da cidade, nos arrabaldes luminosos e a outros não tanto, mas livre das escórias, bem entendido. Aliás, faço parêntesis para declinar: (através de minha já proverbial non-sense) que doravante esse estado de espírito, o do “flaneur” dominará os textos aqui postados, visto a beleza ainda restante em nossa cidade, resistir aos Hunos da governança e dos empreiteiros.
            Volto ao que dizia, ou aqui explico, sofro da maldição do “inquietismo”, me é impossível ficar parado. O andar é pôs uma imposição da mente, mais que do corpo. Então, caminhando, eu, pelas ruas que por mais burburinho que apresentem, sempre mantém seu poder de acolhimento desperto, foi quando observei que de um dos prédios a minha frente, prédio antigo, começo do século XX, sobressaiam, cabeça e mãos e sob essas protuberâncias murais, duas molduras com dizeres, impossíveis de serem lidos da calçada, porque são muito pequenos, os dizeres, bem entendido, ou porque sejam de péssima qualidade dos meus óculos, ou olhos, de qualquer jeito, não distingui o que escrito ali estava. Corro em volta a olhar e esqueça aos camelôs, aos passantes eternamente apressados e você, se continuar mantendo alto seu olhar, poderá sentir-se em plena “belle-epoqué”. Está certo, têm também os fios elétricos, esqueça-os, pronto, 1930! Apesar da demolição, quase total, do Rio de Janeiro colonial, restam-nos bons exemplos de nossa arquitetura do inicio do século XX e o Centro é um ótimo exemplo disso.
            As igrejas, (sempre elas), também guardam inúmeros exemplos de como foram ricas nossas manifestações culturais. A Catedral da Rua Chile, por exemplo, possui um museu sacro interessantíssimo e pouco visitado.
             Estou postando fotos tiradas nas ruas do Riachuelo e  rua do Lavradio, as casas que aparecem são do início do século. Algumas bem descaracterizadas, mas é possível imaginar João do Rio desfilando por ali. Também algumas das ruas adjacentes, com prédios não tão antigos, mas de desenho arquitetônico singular.
            Na esquina ainda de pé, a mansão do Marquês do Lavradio ainda resiste, mesmo com as ilhargas afrontadas pelo trânsito, passantes, obras eternas etc. Próximo, o Templo Maçônico; obra arquitetada por Montigny (o mesmo arquiteto da casa França Brasil), embora, restem dúvidas.
Foto: R. Ferrari - Casa onde morou Gal. Osório - atual Escola de Filosofia - RJ

Foto: R. Ferrari - antiga fábrica de sabonetes - RJ- Estilo Eclético.


Foto: R. Ferrari - antiga fábrica de sabonetes - RJ- Estilo Eclético.


Foto: R. Ferrari - Estilo Clássico Português.

Foto: R. Ferrari - Sacada de Cantaria- RJ


Foto: R. Ferrari - Arte Déco - RJ
 
Foto: R. Ferrari - Estilo Clássico "deturpado" - RJ.

Foto: R. Ferrari - Arte Noveau - RJ


Foto: R. Ferrari - Rua do Lavradio - Neo Clássico - RJ.
  
Foto: R. Ferrari - Detalhe da Faichada Motivo Italiano.

Foto: R. Ferrari - Rua do Lavradio - Neo Clássico - RJ.

Foto: R. Ferrari - Rua do Lavradio - Neo Clássico - RJ.
             Penso que deveriam existir estátuas em homenagem a João do Rio e Joaquim Manuel de Macedo. O Rio não seria o que é, o que foi, sem eles.
            É... ainda terei muita história para postar sobre o Rio, uma cidade que tem a história toda aqui, em cada pedacinho, seja na zona sul, zona oeste, zona norte... mas o centro é riquíssimo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Rio de Janeiro

           
              Nunca dantes nesse país (não resisti a citar o nosso grande timoneiro), a máxima de que “as colunas foram construídas separadamente, mas juntas, sustentam a catedral”, faz-se mas certo. Estarrecidos vemos na TV ao noticiário de hoje. Ônibus e carros incendiados, ameaça de bomba, traficantes encurralados em morro, trocam tiros com policiais, helicópteros bordejam favelas e são atingidos, a eminência do caos .
            Esquecemos o principal. Nunca antes, foi facultada aos cariocas, a possibilidade de realmente influir em nosso destino.
            As velhas comadres que resfolegam, quando estão na fila do supermercado, reclamando das falhas dos policiais demonstradas, no jornal ou televisão, acabaram. As falhas se houveram, agora são nossas. Os comentários desairosos a corrupta e falha polícia, devem ser deixados de lado, As ações necessárias, serão as de ajuda. Consideremos por um momento o que ocorre. A pressão sobre os homens que servem na corporação policial, nunca foram tão grandes. Estão todos na rua. Corruptos e honestos, praças e treinandos, os que trabalham internos e os recém promovidos.
            Não existe por enquanto cortina, o que oculta.  Os policiais estão ombreados, tem que mostrar serviço. O colega ao lado, necessita do companheiro. Há uma “guerra” no ar. Como sempre existiu, mas antes, bastávamos cobrar ao policial, que não imolou sua existência nela. Não agora, não de novo.
            Espera-se que cada um cumpra o seu dever. E será com a tecnologia, com o senso comum, com planejamento e estratégia, que tal será ensejado. Temos telefones ao nosso alcance, linhas diretas com o preceito legal. Não nos afastemos disso.
            Habitamos de há muito, a dois mundos. E desses mundos escolhemos diariamente onde queremos estar. Se votamos, habitamos ao circunspecto estado da razão, fundada pelos franceses e ingleses, amparados no ombro de Gregos e Romanos, se multados formos, na esquina, no sinal, transmutamos, trocamos a dimensão do existir, corrompemos então ao guarda, habitamos uma sorumbática Biafra dos sentidos, afinal, o que são cinquenta reais? Se estamos na frente da fila, tudo bem que aquele colega se avizinhe, sempre poderemos afirmar, que guardávamos o lugar, E vai da valsa, jogamos papéis no chão, pois damos emprego a alguém afinal! Mudemos isso.Importemo-nos!
            Sobrecarreguemos as linhas telefônicas aos 190, disque denúncia, delegacias de bairro etc. O Rio sempre foi o do contra, sempre estivemos à esquerda do pensamento da nação como um todo. Pois bem, ensinemos outra vez ao Brasil, como pensar no novo, que se avizinha e agora foi ameaçado. Deixemos que o novo entre. Estamos a um paço do futuro. Que se mude a legislação. A lei necessita de agilidade, quebra das regalias a presos, julgamentos sumários, desde que comprovada à ameaça, presídios realmente inexpugnáveis, menor contato humano dos presos, com carcereiros, menos visitas, acompanhamento de visitas advocatícias, redução e ligação delas aos processos. Sem mudanças, sem visitas.
            Relembremos Voltaire, “Ser livre, é não estar sujeito a coisa alguma, exceto as leis.”

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Criação ou Apropriação?!

           Na coluna do Ancelmo Góis, do Jornal: O Globo de Domingo, o poeta maior do Brasil, Ferreira Gullar, reclama do possível plágio a um poema seu. No caso “Traduzir-se”, esse é o título, que teria sido copiado pelo chato dos chatos, o menestrel  auto esquecido da MPB, (isso, enquanto existia MPB), Oswaldo Montenegro, em 1980, sintomaticamente a década sem música.
            Poetinha..., e aí, roubo também descaradamente ao epíteto à outro colega dele, também poeta,  menor em letras, maior na música. (Meu Deus, essa discussão tende a ir longe).
            Então sigamos com uma amostra da verve de um, frente ao sonho de outro:

             “Uma parte de mim é todo o mundo
             Outra parte é ninguém: fundo sem fundo”.

            E segue “Metade”, no caso, a tal letra, poesia do outro, o Oswaldo.

            “Porque metade de mim é o que eu grito,
             Mas a outra metade é silêncio”.        

            Sacaram o plágio? Tá certo. O Ancelmo avisou aos incautos, e mais bobo do que eu, não haverá. "As duas obras são completamente distintas” Tá bom! Droga! Então porque a querela?
            A confusão quem cria é o poeta. Ele descarta coincidências e inspiração. Id e supra mundo.
            Olhemos em volta. Quem lê poesia hoje? Em qual escola pública, estudam-se os poetas, como se de um todo literário, parte fizessem? Não digo: Lorca, Pound, ou Elliot. Não citemos aos de língua portuguesa, posso queimar o palato.
            De repente, surge uma mestra do Tocantins, que revê com seus alunos diariamente: a Bandeira, Drumond e Pessoa. Acho difícil, mas vá lá. Ah, droga (outra vez), afirmo então. Poesia é arte morta no país! Coragem prossiga... Ninguém lê poesia na Terra Papagalis! Ainda... A maioria do Brasil confunde poesia com letra de música, cita Drumond se perguntado,  porque viram no Fantástico, vocês sabem “o show da vida” e de Bandeira, sabem só ao feriado, entendam, o dia da pátria. Duvidam?
            Seu Gullar tenha dó. Sua arte permanece ótima, seus dons, creia, ainda são fantásticos, mas  reflito no  aforismo de  Elliot “Os poetas imaturos imitam, os maduros roubam”
            De Ben Jonson a Picasso, toda arte talvez seja influência repartida. Borges não cria que todo escritor cria seu predecessor?
            Desde que a arte transmutou-se em mercadoria, apropriação e pecado, formaram a dicotomia mestra do mercado. George Harrison e Lennon já haviam dito: “que o controle criacional do compositor deveria ser abolido”.
            Existem bilhões de formulações interativas possíveis em música, mas graças ao gigantesco poder midiático, ouvimos pouca variação na música popular. Pior, ouvindo constantemente música, quem cria pode vir a “engravidar” seu cérebro, com espúrias influências. Os próprios compositores e produtores procuram copiar fórmulas vitoriosas, leiam-se, canções campeãs em venda. (como se ainda existissem canções). Quem não passou pela experiência de ouvir como outra, a uma nova música?
            Então os “safados” de plantão agora cometem “apropriação cultural” sofrem de “contaminação tautológica”?  É bem assim, mas persiste nosso senso.
            Mesmo em épocas de franco relativismo cultural, bafejado pelo vazio artístico e lambido pela gratuidade da internet, ainda restam alguns que se importam: os que lêem.
            O que manda é o crossover, a soma, a encruzilhada, o meltingpot, e vamos nós.
Há bem pouco tempo, discuti com um amigo que teimava em acusar de larápio, ao compositor Donga. Tudo por causa de “Pelo telefone” o samba registrado na Biblioteca Nacional pelo músico e o parceiro o “peru dos pés frios”, Mauro de Almeida, um jornalista “branco”. Segundo informações, a música uma criação coletiva dos jovens músicos negros, que não saíam da casa de Tia Cíata. Imaginem uma casa que englobasse um centro de candomblé, ateliê de costura, em épocas próximas do carnaval, onde se comia e bebia “a vera” e fartamente, onde brancos e negros tinham vida em comum, comungando das mesmas artes e ofícios. O que brota desse cadinho pertence a quem? É possível, que Mauro tenha dado a feição final, ás várias versões da letra.
            Por isso Gullar (quanta intimidade) não se avexe. Sua poesia continua sendo cantada. O Globo o tem incluído em seus programas. Tenho-o visto na GNT, em anúncios culturais, em horário nobre, em entrevistas mil. O maior poeta do Brasil, 88 anos, pode muito bem ter influenciado ao Montenegro. E afinal, a sua poesia é a que ficará.
            E cá para nós... Vocês combinaram isso não?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Doce Som da Ilusão

           Às vezes penso que deveria ter alertado minhas filhas, contra uma das maiores armadilhas frente à outrora imorredoura, prática do casamento. Avisá-las, de que tudo que no namoro foi sinônimo de enlevo, tudo que no namoro nos leva  a uma carinhosa atenção, pequenas manias cotidianas, daquelas que forçam os apaixonados a promoverem a um “biquinho” e passarem a tratar-se no diminutivo, aquelas maniazinhas, como: adorar tomar leite morno ao deitar, coleção de autorama, figurinhas, discos vinil, gibis, futebol sexta à tarde, etc. seriam causa de uma fulgurante surpresa.
            Claro, que também deveria ter comentado com meus genros, que aquelas doces e sensíveis maniazinhas, cândidas marolas do dia, como: comer iogurte com fandangos, preferir meias com desenhos infantis a qualquer outra etc. Pois é, tudo aquilo que adorávamos na época do namoro, aquelas coisitas banais, serão as que mais "odiarão" depois de casados. Esqueci, nada disse, também, pra que? Além de cego, o amor permanece um bom tempo, mouco, melhorando do mal, aos poucos.
            Enquanto lembrava disso, olhava minha coleção de cd’s, subindo em estantes pela parede e das discussões, homéricas, que tive com minha esposa acerca deles.
            Jovem, habitei numa época em que a música pop, estava sendo elevada a categoria de maior importância na “indústria cultural”.  Em 68, a indústria que supria os consumidores essa arte, vomitava toneladas de plástico e papelão, por sobre nossos longos cabelos, hirsutos pelos, penugens, encaracoladas madeixas, desesperadas calvas incipientes e tudo o mais. Renegar era então a palavra de ordem, não importava ao que, onde, ou quando, renegar isso sim, era importante. E claro, no vácuo, vieram guerras e tudo o mais, pois os mais velhos, sempre e por toda a eternidade, preferiram jogar seus jovens à morte a ter de enfrentar um afrontamento, querelas, discussões, vocês sabem, nada mais de direita... E a natureza odeia o vácuo, e o preenche com algo. Assim, vieram em seguida as discussões raciais, as urgências feministas, as pendências trabalhistas, os partidos extremistas, todos os “istas” da espécie. Nada mais de esquerda, as guerras continuariam, pois é de nosso feitio matar e sermos mortos.
            A África logo ali, nossa pátria segunda, com suas tribos incivilizadas e a época, e agora ainda, diversos países a sujeitá-la, de Cuba a França, da Inglaterra a Tio Sam, empobrecedor foi pouco.
            Perguntas esbaforidas, e o "kiko"? Respondo mais tranquilo, nada a ver...
            Pois é, o que soa agora como ainda importante é que a música que foi o motor de toda uma discussão, criação, vertente, baliza, motor, urgência pragmática, e, e, e, e, nada mais é agora do que simulacro, movimento, esquema, negócio, fantasia, sombra, lembrança midiática.

            Como, Umberto Eco, já havia escrito “A difusão dos bens culturais, mesmo os mais válidos, quando se torna intensiva, embota as capacidades receptivas” e segue, “...trata-se, porém de um fenômeno de consumo.” Claro como água, como dia de verão.
            Incrédulo, vejo em letras que seriam garrafais, se garrafas ainda subsistissem que a boy band de Pop Restart fará um show dia... Gargalho a bandeiras despregadas, banda de Pop no país do ritmo, Restart? Meu Deus, onde estais que não respondes?
            Garotos com pinta de desnutridos e famélicos, a gorar uma rima Tati-bi-tati- vazia a respeito do nada enquanto vazio, há sentido? Se não, não olhem para mim, são eles a ombrear com os Deuses e semideuses do Pop.
Pois agora é assim. Quanto tens? Tens muito? Uma parte fica outra parte é o quinhão. E jaz! SUCESSO!
            Retorno de iniquidades, a volta dos que nunca foram... Lagartixas que se querem dinossauros, bandas de um disco, que baixam mais downloads do que Led Zeppelin, hippies, de última hora, como precursores, calangos túrgidos, como artistas, o nada pelo nada, a lugar algum.

            Consumimos a música baixada, capada do principal, QUALIDADE! Do Arranjo equidistante, ao aviso bombástico de que são apenas 192 kbs, 160kbs, 128kbs, 95kbs, migalhas... Pérolas aos porcos, células da origem, milho ás galinhas da cultura. Não importa se aquela guitarra não á a original, se a bateria parece oca, se o coral rouco, ou a gaita difusa... Essa é a nova música.
            Música comprimida sempre terá perda. A perda será nas pontuações do gráfico. Música em gráfico é como um eletro, as pontas vão para o espaço, em acordo ao número de bits comprimidos. O volume foi capado, o agudo tornou-se frigir, o baixo é um buraco? Menos de 128 kbs tens no laço. Se parece estar bem, mas o som é de rádio FM, 192 KBS, têm no baço. Se tudo parece perfeito, e ao fechar os olhos, não sentes embaraço, podes ter certeza, 320kbs, tens no pedaço.
            Bom mesmo é o flac, esse é perfeito. Mas poucos têm de seu. Infelizmente é a performance da discórdia, a soma das incertezas, o desconhecido, pouco frequentado. Enquanto isso seguimos, não compramos, não ouvimos, nada que estorve, pouco que mude. Eric Clapton em sua “bio” diz que 85% da música pop atual, é lixo. Creio que foi muito bondoso em suas colocações.
            Houve tempo, meu amor, (não evito a repetição da frase, mas atente ao derradeiro ato), que o som total foi o mais importante, montava-se mesmo a mesas de som em casa, para divisão igualitária do ruído música, e pagava-se caro, muito caro. Hoje em MP3, resta-nos o frangalho.
            Antes o estúdio preocupava-se com a média de som por canal, hoje, priorizam ao grave. Sabem que será em pífio aparelhos de reprodução que se ouvirá aquela música, então por que melhorar a alquimia? Que soe como lata ao agudo, como cavernoso ao baixo, dê volume enorme á tudo, e estamos conversados. Não se vendem mais aparelhos de reprodução fina, amplificadores e equalizadores. Mesmice. Tudo são igualdade e rebotalho.

Então porque avisar minhas meninas, das sanhas da vida?
Que elas se acomodem nas fímbrias da doce ilusão.
Mas vale uma arte sentida, que uma falsa mesura da vida,
Mais, muito mais importante é a visão estendida,
Sobre uma pseuda iluminação.
          E estamos conversados.














segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Calunga

           

        Serra falhou por não se apresentar claramente como oposição. Serra errou por permitir ao PT, a formação de um plebiscito velado na forma do seu discurso e escolhas desse tipo, favorecem a quem está no poder. Serra errou por atacar o rigor fiscal. Serra errou, por demorar a sair á rua. Serra errou por prometer aumento dos impostos. A classe média, que é quem pagaria por essas medidas, correu. Serra permitiu, com a discussão religiosa, que setores, os quais ainda não participavam da campanha entrassem nela, e esses setores são os que mais receberam do “Lulismo”.
            Essas em suma, são as causas que surgem hoje na mídia, acerca da perda da eleição pelo PSDB. Todas corretas, ou não, fazem sentido. Todas são e serão dignas de apreciação e estudos dos marqueteiros, no mínimo durante os quatro anos que se avizinham.
            O que não surge nessas posições é a total  e inquestionável ojeriza á figura do candidato. Não acredito que em plena e total era do marketing, uma pesquisa de opinião, não tenha sido preparada, visando aferir nas ruas da “Terra Papagalis”, como o cultuado [nessa época] Zé Povinho, enxergava a figura do candidato defenestrado a timoneiro.
            Calvo, dedo em riste, olhar rútilo, falando peremptoriamente, relembrando um passado glorioso, que poucos ligavam a sua figura,Serra, nessa eleição, quase nunca fez isso. Na verdade isso é  uma rápida definição de sua atuação em outra pugna, onde também tomou chinelada,e pasmem, é visto assim, ainda e talvez para sempre pelo eleitorado _seja seu ou não_ . Lembremos de habitar a terras onde a primeira impressão é a que fica. Os deslizes de figuras públicas não são perdoados, salvo, se ele é o mocinho ou mocinha da trama e chora ao vivo,a terras  onde acusações sem prova valem com força moral e etc.
            Serra errou no ponto mais comum em marketing. O primeiro ponto a ser visto quando do relançamento de produto: a imagem. Mesmo brandindo suas mãos de grandes dedos abertos, como a implorar a chance, mesmo no esgar simpático de seus meio sorrisos complacentes, mesmo evitando os olhos arregalados e falando clara e compassadamente, ele soa a todos como um professor, um gestor, um dirigente, alguém que quer liderar. Emoção fora da roda. Foco. Em tese, o que também apresentou a candidata, contra quem lutava.
            Tá certo, não é exatamente isso por que procura o povo? Um líder, um chefe, um gerente? Não necessariamente, aliás, não mesmo.
            O povo procura a mesmice. E se o passado logo ali, esteve bom, porque mudar? O povo, nós, precisamos de um pai. Se for uma mãe, melhor. Sempre haverá a possibilidade de mamarmos as tetas flácidas da República das Bananas.
            Serra tropeçou em si mesmo. No afã de ganhar o tão almejado prêmio, esqueceu de olhar-se no espelho. Um Dorian Gray às avessas. O PSDB Colocou para escanteio Aécio Neves, que [Meu Deus!] poderia ser o novo Collor!! É simpaticíssimo, trafega na dita área cultural, com a desenvoltura de Fred Astaire.Conhece biblicamente ou não a  modelos, artistas iniciantes e iniciadas, ex-esposas, dele mesmo e de outros, um verdadeiro onívoro .Tem dinheiro. Tio famoso na lápide da história, e na do cemitério;símbolo sem chance de respostas. Vida escancarada na medida do que o povo sabe e vê. A novela das seis, das oito e das dez.Jovem, é   um compêndio sul americano do fazer política, que, diga-se de passagem, parece estar sendo copiada em outras partes do mundo, com relativo sucesso e pronto;a massa estava pronta. Tia Anastásia já havia batido o bolo, faltava o tal Pedrinho ir à caça, e a Cuca Serra, estragou tudo.
            Serra errou por não ver, ou querer ver, que havia cansado sua imagem, esgotado seus truques, que o show que estava no palco é o que o povo prefere continuar vendo. É como nas novelas. Tem crime aqui e acolá, tem gente grande presa, tem seleção jogando e agora são duas: futebol e vôlei. Nem Médici pediu tanto. Tem mesa, se não cheia, ao menos frequentada, o que é uma mudança gigantesca. Ninguém entendia uma Biafra em cada esquina. Tem gente pequena subindo e gente grande caindo, igualzinho novela.Tem até sexo,mas disso não falo.
            Serra errou por querer abocanhar o assado, que o PSDB temperou, mas Lula que se tornou um récipe de populismo fechou-lhe o forno na cara. Correm agora o perigo de Aécio fundar seu próprio partido. Imaginem se uma junção Marina/Aécio fosse possível? Ou se Lula, e está demorando muito, abandonasse a combalida tábua de tiro ao alvo que é,e mais ainda será, o atual PT _ poder e flatulência, grandeza e vazio_ e desse cria a uma nova legenda? Um Peronismo cucaracha, um Getulismo moderado, um Castrismo soft?
E se, e se... Quem sabe o mal que se esconde no coração humano? Só o sombra sabe!



sábado, 30 de outubro de 2010

Festa do Chá

               Falei no texto sobre Marilyn, que os Estados Unidos da América, formam um povo estranho e agora me arrependo disso, pois mesmo a família, tem posições diferentes, Agora ouço ao panfletário e ao arredio perfumista social, o embotador de sentidos, e ao alforriador de sentimentos. Persigo-me.
               Senhoras, senhores e senhoritas, disse isso como desembuche, mas que é bem verdade isso é... se não, sigam...
               Qual país após um horroroso ataque terrorista alvejaria e destruiria outro, exemplificando isso como caça a criminosos? Qual país é capaz de tomar as medidas mais arbitrárias contra outro, na certeza de uma impunidade política mundial? Qual país enviaria sua juventude dourada, para invadir outra nação baseado em contos da carochinha, acerca de armas de destruição em massa. Qual país consegue segregar o ódio irrestrito mesmo a plácidos turistas de bermudas meias e sapato, espalhados pelo mundo? Qual país mesmo depois de haver perdido a uma guerra causada por sua própria falta de tino político, engendraria formidáveis filmes em que o agredido é um carniceiro incorrigível e ele, o herói americano é a cura, a toda aquela querência política esquerdista? Qual país possui a tão formidável poder técnico científico, capaz de saber quais incríveis e venenosos níveis de poluição despejam e mesmo assim recusam-se-a coibir que tais níveis venham a aumentar. Qual país torra literalmente fortunas, que poderiam vir a salvar da ruína a nações inteiras, em honra às guerras, em que nem seus próprios dirigentes acreditam? Qual país faz propaganda de ser a terra da liberdade e prosperidade e organiza a caça irrestrita a todo pretenso “invasor” de seu Estado?
               Nos Estados Unidos, o messianismo toma forma e vira gente, se duvidarmos todos os dias, graças à impoluta mídia. Eles são medrosos, mas vendem-nos a soberba, são garbosos, mas querem que aprendamos a não o ser. Cultuam ao herói solitário, presente em seus filmes, livros, arte. Os que se fazem sozinhos, pontuam agora ao direitismo que dia a dia toma espaço na antiga e ferrenha democracia.
               O movimento do Tea Party, um movimento populista, recebe grossos subsídios de grandes empresas, enquanto tenta minar a governabilidade de seu próprio presidente. Estranho é que o movimento engloba tantos conceitos e desejos, que a resposta política interna tende a anular o processo político. Então por que crescem seus participantes? Por que o subsídio indecoroso de empresas petrolíferas, que em tese, nada lucram com esses movimentos? Eles são os maiores expoentes culturais do mundo. Técnica e estudo, cultura de massas e política, arte e mídia. Temos a impressão por vezes, que o século XX, foi invenção deles. Eles são tão “crentes” em sua superioridade, que tendem a falar mal de si mesmos em suas obras, mesmo “filmecos” que correm o mundo, dinamitando sua propaganda externa. As mensagens da Casa Branca, e Wall Street, chegam diferentes das que seu povo observa: nos seus empregos e lares.

                Concordam agora? ETA povo estranho!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A ARTE É UMA ILUSÃO



               Arte é o que nos move, motiva pensamentos e sentimentos de criação análogos.
Pensava nisso, quando me ocorreu a figura de Marilyn Monroe. Atriz ícone do cinema estadunidense, morta aos 36 anos.
     Utilizo sua figura pelo acréscimo de simbolismo que ela mantém, pelo ultrapassar das modernas definições que sua arte alcançou. Utilizo a forma arquétipo mais presente em nossas lembranças, o sexual. Porque mais comum, porque mais fácil de reconhecer.
     As três fotos a mostram em fases distintas da carreira. Jovem estrelinha, estrela e em sua última foto, na verdade uma de uma série de muitas, tiradas pela Life, semanas antes de sua morte e só publicadas após seu passamento.
     Marilyn surge como o símbolo perfeito para a era que se descortinava. Sua morte em 1962, a de Kennedy em 1963 e a chegada dos Beatles em 1964, pontuam e deflagram os anos 60, por sobre as tumbas do Vietnã. Sobrevivendo como égide, a Guevara, Elvis, James Dean, sua figura significa e exemplifica agora, o que nunca foi, uma época que não lhe pertenceu de fato, uma liberdade que só viria logo depois que dobrasse a esquina da vida. Mesmo não tendo seus filmes no circuito televisivo popular, uma mostra de suas fotos recentemente, exposição do fotógrafo Albert Stern, lotou os lugares onde foram exibidas, aqui no Brasil.
     Escândalos ajudam, por certo, sexo também, mas é sua aura ainda a exalar a modernidade que outros “ícones” perderam,que clama por análise. A causa de sua morte, envolta em mistério, pretenso relacionamento com Kennedy, envenenamento, os abusos que teria cometido e que teria sofrido, sua mãe louca, o pai desconhecido, nada enevoa sua aura, antes, a amplia.
     Assim como Dean, esmerava-se para manter sua técnica e aprender mais. Já estrela, cursou o Actors Studio, para livrar-se da Fox, fundou sua produtora. A diferença residia em sua inabalável crença, crença na arte. A leitora compulsiva permanece uma desconhecida, quando poemas e anotações suas são publicadas, ainda a pouco, não surpreendem a quem pôde antever.
     Marilyn queria soar real, mais do que parecer, ser atriz. Era um paradoxo constante, que só faria sentido pouco depois de sua passagem com a chegada da contra cultura. Tinha perfeita noção de ser um personagem, referia-se a si mesma, quando em reuniões de negócio, na terceira pessoa. Criou o símbolo Marilyn, baseado em outras atrizes que a antecederam, mantinha em seu camarim, uma foto de Jean Harlow, a loura platinada, mas ampliou e fundou ao quase estado de espírito do que seria “ser uma loura” para todo o sempre: positiva ou negativamente. Construiu-se como mito. Trazendo da vida, o que as pessoas queriam ver. A idealização de seus sonhos, libidinosos que sejam. O fetiche certo para uma época de ouro da arte, que em suma fetiche também o é.
     Elvis ainda vende discos CD, tanto quanto Hendrix. Dean, de vez em quando, tem seus filmes comentados e a pouco, foram feitos novos estudos acerca de seu acidente, revelando sua culpa na colisão que o vitimou. Guevara, que foi inspiração rebelde durou pouco. Os novos ares do mundo não sopram mais idealismo vazio, todavia transformou-se em decoração de loja, cercado de bandeiras vermelhas. Contudo, majoritariamente, dependem do mercado dos Estados Unidos para se manterem como figuras do mito, mitos mortos então, cada vez mais definitivamente, enquanto ela permanece mais do que lembrança, estado de espírito, os outros retidos em seus escaninhos datados, ela etérea.
     Qual mulher que nos 50 e 60, reconheceria que gostaria de ser como Marilyn? Poucas nos EUA. De qualquer forma, logo depois estavam queimando os sutiãs, encurtando saias e vestidos, fumando, declarando o amor livre. Pode-se entronizar Mary Quant, Betty Friedan, Indira, Pagu, mas libertadora mesmo foi Marilyn. Engraçada, sensual, ingênua, linda, bonita, meio feiosa, faladora, a todos os estereótipos da comédia ligeira, ela percorreu (e não entenda comédia aqui, como graça do riso). Claro, que com toda a dor que esse tipo de libertar acarretou. Mas hoje aqui estão elas, com todos os dividendos e resgates da vida mais moderna, que Marilyn ajudou-as a vivenciar. Não fosse os americanos um povo tão esquisito, reconheceriam seu pioneirismo, trabalhando na indústria da mimese por primazia, não se furtava a escancarar suas intimidades, enquanto os Rock’s Hudson’s escondiam-se, isso sem perder nada de sua graça e fama. Uma artista, ainda a outorgar sua inspiração, há tantas pelo mundo. A transgressora por excelência, para um mundo já cansado de transgressões.