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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Flash


Olá! Somos nós.
Estamos ainda aqui, assim, assim...
Melodramático instante pensamos.
Porque pensamos sermos um, e somos milhões
Vemo-nos como a raspa do tacho, o escuro da criação.
Somos apenas achas, na fogueira das vaidades.
Somos a raça humana
A única casta animal que ri, chora e sabe que vai morrer.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Samba é Assim...


    
             
               
                Os hindus, em sua mitologia particular, consideravam a música, como uma força, um poder, extra-homem e natural. Uma força de e da vida. Viam o fruir da vida como possuindo dois aspectos: o bom e o voluptuosamente agradável, e diferenciavam os dois como escolha de sábios e tolos.
                A dualidade deste tipo de pensamento: bom e mau, certo e errado, esquerda e direita, Yin e yang, nos perapssa até hoje.. Criam os hindus, que aos sábios, o bom, seria a escolha acertada, visto as empulhações a que nossos sentidos nos expõem e são expostos, levando-nos a erradas definições, enquanto a simplicidade do agradável deixar-nos-iam entregues a facilidades de escolha do que é aceito, sem julgamento ou embate mental. Perfeito.
                Em resposta a árias e marchas a que nossos antepassados estavam expostos, criamos a mais formidável máquina de ritmos.
                No Brasil, seguindo o exemplo do planeta, que descobria gosto pela música negra, coronária, rítmica, o samba apareceu. Invenção de malandros, umbandistas, negros e capoeiras de escol, quando as agremiações carnavalescas, desfilavam ao som de polcas, árias, marchas e mazurcas.
                Sem acesso a variedade de instrumentos de seus irmãos do norte, os negros da América sulina aperfeiçoaram as batidas e utilizaram o violão. E jazz! Não, Zaz! “Isso aqui IOIÔ, é um pouquinho de Brasil...”
                Os negros saem de seus folguedos marginais, no sentido de periféricos, para o centro da roda da arte. São eles agora que ditam o ritmo. E esse é sincopado, malemolente, swingado, e sempre, sempre participativo. O sentimento toma outra vez partido. Partido alto.
                Ao final do império de Pedro, o segundo e último, Momo migra de Deus a Rei! Claro! De Deus menor de uma cultura bolorenta, a Rei de um novo País, promoção! Pois não?  E seus súditos se contorcem, sacolejam e trepidam. Alegria, ainda que tardia, ainda que só por aqueles dias. Os quatro da fuzarca, aos poucos das cantigas.
                Morrem lentamente personagens que se criam eternos. Os Dominós, os diabos, os Velhos os Zé pereiras. Morrem em figura, mas permanecem nos fiapos da memória. Permanecem na ativa. Disfarçados ou transmutados, açambarcados e fremidos, alguns emergem em outras figuras. Os Velhos, nos passos do dito samba, os Zé pereiras no agora redobrado e infinito bumbo, e seus primos, atabaques, pandeiros e taróis.
                Pindorama rediviva em arte e criação respira aliviada. A arte musical seguiu seu passo, contrapasso, anseio. Um povo, vários povos, negros, mesclados açambarcados, reclinam-se sobre toda uma cultura perdida, e recriam ao seu modo, com o estofo do novo mundo, uma nova e exuberante cultura, donde o samba emerge, supremo, altaneiro, talvez a maior arte musical, criada na América.

sábado, 19 de março de 2011

Carnaval da Europa ao Rio


                “Rio 40 graus – Cidade Maravilha Purgatório da Beleza e do Caos”
                Ah! Tempos que passam... Que somam um Deus a Deuses, em uma dicotomia de mensagens, imagens, formas do sentir. Não narrarei, sobre o grande Dionísio, mais que o necessário. Sua sombra velada nos perpassa, mas isso não é, e não será tudo. Por acréscimo Dionísio (Baco) migrou do deus da embriaguez para o Deus da inspiração. Na antiguidade nunca houve ou ocorreram celebrações iguais, nas regiões onde se celebrava o culto a um Deus. 
 A Dionísio, duas formas de adoração soavam peculiares:
1) 0 caráter orgíaco;
2) A presença de mulheres.
                No início da primavera realizava-se a festa Antesteriass, o festival do vinho novo. Fechavam-se as portas das casas e dos templos, lacravam-se as entradas ao sagrado; pois nessa ocasião, as almas dos mortos vagavam pela terra sem perdão. Isso deu origem á outra lenda, mas o que nos interessa no momento, é o carnaval. Sigamos, pois... Ritos campestres, ligados a colheita, as estações, ao tempo, transmutados séculos após séculos.
                Os festejos do carnaval, com todos os atos e ritos cômicos que a ele se ligavam, ocupavam um lugar muito importante na vida do homem medieval. Além dos carnavais propriamente ditos, que eram acompanhados de atos e procissões complicadas que enchiam as praças e as ruas durante dias inteiros, celebravam-se também as festas dos tolos (festa stultorum) e a festa do asno. Existia também, um riso pascal, muito especial e livre, consagrado pela tradição. Além disso, todas as festas religiosas possuíam um aspecto cômico popular e público, consagrado por festas a deuses agrícolas, festas campestres, ritos silvestres. Era o caso das festas do templo, habitualmente acompanhadas de feiras. O mesmo ocorria com festas agrícolas, como a vindima, que se celebrava igualmente nas cidades.
                Entretanto, nas etapas primitivas, dentro de um regime social que não  conhecia ainda nem classes, nem estado, os aspectos sérios e cômicos da divindade, do mundo e do homem eram, segundos todos os indícios, igualmente sagrados e igualmente poderíamos dizer: ”oficiais”. Lembramos, também, que as festividades (qualquer que seja o seu tipo) são uma forma primordial, marcante da civilização humana. Não é preciso explicá-las como produto de condições e finalidades práticas de trabalho coletivo. E aí atravessamos o regime feudal, religioso e comercial, de significações hierárquicas especiais, de compartimentação em estados e corporações.        Ao longo dos séculos de evolução, o carnaval da idade média, preparado pelos séculos de ritos cômicos, velhos milhares de anos, incluindo aí as Saturnais, originou  uma linguagem própria. O caráter utópico, valor de concepção do mundo, desse riso festivo, dirigido contra toda a superioridade social. A burla da divindade. São as celebrações carnavalescas portuguesas e espanholas, tão importantes na vida medieval, que vem dar ao novo mundo da América, essa festa burlesca, caricata, de antigas sapiências e ritos e que será acrescida de uma música criada pelos escravos, trazidos d’lém mar para o trabalho servil, mas só depois. Sigamos então... Ultrapassamos a Inquisição, o erro tácito, tático, social, e mental da Igreja.
                O traço marcante do realismo grotesco é o rebaixamento. Isso é a transferência ao plano material e corporal, o da terra e do corpo na sua indissolúvel unidade, de tudo que é elevado, espiritual e ideal, em abstrato. Degradar, desmascarar, encarar a degeneração. Na realidade a função do grotesco é liberar o homem das formas da necessidade inumano em que se baseiam as idéias dominantes sobre o mundo.
                Torcemos então ao fundeado, “o que está em baixo, é igual ao que se encontra em cima”, comum a crença escolástica e medieval. Transladando, isso é a definição de carnaval. Esqueçam religiões e política, grupos e camarilhas, deusas, deuses e igrejas.
Secularmente, o carnaval, é o anverso, o espelho, da praça, do mercado, da sociedade, da cidade, do mundo. Note a exclusão. Sai o campo, entra a cidade.
                Trazido por portugueses e espanhóis, o carnaval aporta aqui como troça, pilhéria, fuzarca, brincadeiras e folguedo. “Sábios ‘alfacinhas”. Aboletados nas cidades e seus co-irmãos d’e Espanha no campo, burilando, mexendo o cadinho, criando a mais portentosa festa popular do planeta. O “entrudo” se posta senhor absoluto da festa. Famílias inteiras digladiavam-se, janelas contra janelas, casas contra ruas, transeuntes, contra passantes, moleques contra cartolas. E dá-lhe água e seringas, bacias e bolotas, um aguaceiro gigantesco e espaventoso. E logo, logo, no século XVIII e XIX a birra, a esculhambação, incomodam a jornais e porção do povo ricos e medianos , donos de cartolas e polícia, incomodam a uns , mas não a todos. O remoque da brincadeira passa a ser motivo de outra batalha, outros personagens, recém absorvidos por nossa incipiente nação. O carnaval culto e civilizado da Europa, a Itália e suas mascaradas, sua música, sua voluptuosidade velada, familiar, toda uma hipocrisia, vendida aqui, como sinônimo de cultura.
                O povo, o povão, não se deixa enganar com as reclamações vazias. O entrudo e sua aguaceira, dura até o começo do século XX. O carnaval é vida, baseada no princípio do riso. A festa é a propriedade fundamental de todas as formas de ritos e espetáculos cômicos desde a Idade média. O carnaval é a segunda vida do povo.
                No Rio, capital Real, do Império e futura República, as personagens da Europa se apequenam, ou transmutam. Vulgarizam-se, mas sempre se enaltecendo, perdendo sua crueza, alcançando uma ternura doce e branda. Perdem sua densa pantomima teatral, violenta e sexual da praça pública de uma Europa Medieval.
                Arlequim, Pierrô e Colombina adentram ao recinto tropical, cara em riso franco agora. As pilhérias nas ruas, os dominós e diabos, os doutores da mula ruça, os “velhos”, os negros de índios, os Zé Pereira e seus bumbos, os escravos, eles fantasiados de si mesmo. Isso sim a diferença. O que marcará a fronteira da mudança será a mesmice do comum. Os escravos e libertos, naquilo que se denominava de Cucumbis ensaiavam sua participação com seus “enredos” semelhantes em todo o país.
                Um desfile de danças “dramáticas,” apresentadas em português, mas cantadas em línguas ignoradas pelos folcloristas. Cantavam e tocavam em roda, e desfilavam batucando pelas apertadas ruas da cidade. Apresentavam rainhas e reis, vinham com seus atabaques, os que de índio travestiam-se, cocares e penas pelo corpo ostentavam os instrumentos, que se podiam facilmente construir: ganzás, agogôs, xerequês, tamborins, chocalhos, marimbas e adufes. O feiticeiro, portando animais da floresta: cobras, lagartos, pássaros, alguns vivos, outros empalhados, evidenciavam seu poder sobre a natureza. Apareciam como primitivos, infantis, pitorescos e não como uma ameaça da mesma natureza, daquela representada pelos diabinhos, dominós etc. Evidenciando um inaudito respeito, enquanto atacavam a brincadeira imorredoura do entrudo, clamando por um carnaval similar ao Italiano ou depois, europeu, os jornais não comentavam negativamente tais apresentações de negros, citando-as quando muito como pitorescas.

 Bibliografia:
A Cultura popular na Idade Média e Renascimento (no contexto de Rabelais) Ed. Huicitec - 2ª Edição;
Ecos da Folia - Maria Clementina Pereira Cunha - Ed. Companhia das Letras;
No Tempo de Ari Barroso - Sérgio Cabral - Ed. Lumiar;
Os Meus Romanos - Ina Von Binger.

 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Nova Sessão de Cinema


                        A fase da Internet total. Açambarcados por tudo, empurrados mesmo, ondas ao léu. Correntes fátuas, e outras nem tanto. Mesmo assim, aqui estamos e as previsões pessimistas falam em eternidade. Aí me surpreendo negando, dizendo entre dentes que não! Mas que fazer? Essa é a atualidade, nossa e mundial.
            Caíram em minhas mãos alguns filmes. Novos filmes. Chegam a mancheias, desgarrados de nota fiscal, ou embrulho. Simplesmente existem.
            Tá legal, não tão novos, mas atuais. Afinal, o que em nosso século recém adentrado é novo? O que seria novo ou antigo, numa época de visão total sobre o produzido, consumido, usufruído copiado e amealhado?
            Roda o primeiro. Emoção total. Eu! O último dos hippies, mas  aquele que nunca, nunca MESMO! Provou da marijuana, diz, em alto e bom som: maravilha! Trata-se de “Power to the People”, coletânea de John Lennon, que vem junto um Cd de músicas remasterizadas.
            Passeatas! O filme é do tempo das passeatas. Quando pessoas cansadas de pensar, e publicar, e gravar, principalmente, vivenciar, reclamavam! Têm vários clipes, todos manjados. Filme bom, mas curto. Histórico, mais nem tanto. Musical, quase nada... [mais! mais!]
E mesmo assim, um portento.   A “Plastic Ono Band” tocando, enquanto, no palco, Miss Lennon faz crochê, sério, agulhas e tudo. Impagável. Clipes inteiros com imagens digitalizadas e som remaster, Miss Yoko agora assume a ponta da cena. Compreensível. Tudo do mesmo, os novos garotos não suportarão, os velhos fãs babarão. Sai Lennon de cena, cd inteiro visto, e entra um filmeco, que juro, pensei ser filmaço, e senhores e senhoras, fujam disso! ”Além da Vida” Cristna Ricci, Liam Neeson, Justin Long.
            Pessoal, a coisa deve estar feia em Hollywood. Os atores que você costuma ver incensados em publicações rasteiras sem conteúdo, como Caras, Carícia, Pascowitch, e, e, e ....São de fritar bolinhos. Lembram de “A Lista de Schindeller”? Esqueçam. Liam Neeson faz agora questão de solapar a si mesmo. Lembram de “A Lenda do cavaleiro sem Cabeça”? Esqueçam. Miss Ricci agora quer que os que a vêem, não as tenham em uso, “cabeças”, bem entendido.
            Falamos disso em uma das antigas críticas que declinamos, mas não custa repetir. Faltam idéias e ideais a Hollywood, que há muito, a indústria cinematográfica Americana, não as possui ou exercita mais. Lampejos e bandeiras. Inspiração e contundência, Arte, arte! O Sundance e outros festivais ligeiros, não podem mais se responsabilizar por tudo, além do que, o peso da Cultura Americana, importa a um pensar pesadamente ideológico, seja na forma do mea-culpa, seja na do ufanismo, seja na mera fantasia, seja na narração histórica, ou no filme político.
            “Além da Vida”. Parece título de “super produção” Brazuca, com direito a videntes e almas, e é quase isso. A “idéia” se é que existiu seria razoável, senão fosse à base de conhecido seriado, misturado a tentativa do mais barato suspense, temperado a pseudo filosofias. Senão vejamos: dono de funerária tem o poder de comunicar-se com mortos. (Sentiram?) Até o dia que chega o “presunto” novo, Cristina Ricci, em constante lingerie vermelha, e olhares espantados, de quem não sabe, ter passado dessa para melhor. Ela e o diretor desse atentado ao espírito, ou aos espíritos, não sabem onde estão ou estavam na trama. Desisto e calibro outro disquinho que começa a girar. ”A jovem Rainha Vitória” Filme de época, engraçadinho e bonitinho, romântico e cavalheiresco, fotografia impecável, figurinos idem. Locação paupérrima, para a rainha do império onde o sol dormia e se levantava.
            Onde estão as verdadeiras super produções? Estamos sendo enganados. Inúmeras cenas gravadas próximo, procurando ocultar os parcos cenários. Mas a historinha é bem escrita, mesmo transformando a verdadeira rainha, epígrafe de um século rico em dinheiro, e exigente em falsas moralidades, em mocinha redentora. Um bocado demais, mas perfeito a quem nem sabe da velha Albion, ou “saca” de política do período.
            Saí tropeçando disso, indeciso e ainda esperançoso, afinal, esperavam dois tijolaços. O “antigo” Boa Noite e Boa Sorte e o recente “Um Homem Misterioso”. São George Clooney tem “se virado.” A mira certeira e matadora de Boa Noite... Onde dirige e coadjuva, ensina, verte proselitismo artístico e incensa outra vez o diretor autoral, é comovente. Muito ajudado pela grandiosa atuação de David Strathairn.
            Já “Um Homem... É grandioso ou se torna no patamar exercício de estilo. O final meio que decepciona, tratando-se de Clooney. Pastiche “Hollidyniano”; mas pastiche do bom. Com estilo! Vale pela interpretação, fotografia, locações (Itália), clima, música correta. Comparado ao que se faz hoje na terra de Tio Sam, a história adaptada de um romance homônimo, é boa, mas não surpreende. Rola em torno de: Assassino profissional, perito em armas, decide parar de “trabalhar”. Cada vez mais a morte e a falta de perspectivas, o atormentam. A necessidade de cumprir a uma última missão e a solidão em aldeia do interior, forçam-no a encarar mais profundamente o vazio incomensurável de sua vida. Parece familiar? Pois é. Mas é muito bem feito. Não emociona, mas distrai. Ah! Que saudades de “Conduta de Risco”, ”Solaris” “ Queime depois de ler” e etc...
            Desculpe São Clooney, é o melhor que posso fazer, sem chibatar minhas crenças artísticas.
            Já cabeceando de sono, coloco “Não estou lá’.
Sabe? Festival de cinema do Rio?Do sucesso? Não? Deixa prá lá!O filme é uma ode a Dylan, Mister Bob Dylan.
Bom! Muito Bom! Se você saca algo dos anos 60. Bob, junto aos Beatles e Stones, talvez (Who, Kinks) tenham sobrado, e sejam “epígrafe” a todo um período. O termo: “juventude” é mais utilizado numa concepção sócio - histórico cultural e agrega as questões da adolescência e puberdade. Como soam engraçadas essas palavras,quando lembramos que antes deles, a juventude não existia,sendo apenas considerada, uma época que antecedia a idade adulta e responsável.
E aí, chegaram os beatinicks,os hippies,e a porta foi arrombada de vez.
            Vejam o filme e entendam como estamos totalmente “dominados por eles”, as bandas e artistas da década de 60. Mister Zimmerman, surge em toda a sua pompa e mistério, em histórias que formam a lenda dos famigerados anos 60.
            Tem de tudo. As lendas pessoais e as criadas pela incipiente mídia do período. Entende-se a construção de um mito, e então equacionamos sua desestruturação. Simples assim, ou não, não importa. Diversos atores consagrados interpretam Mister Dylan em diversas situaçãos. Cate Blanche, Richard Gere, etc, e põe etc nisso. Afinal todos querem ser unos a uma fase dignificada como de mudança, os atores de Hollywood querem ser modernos eternamente.
            Esqueça, mas como arte, se não completa, ao menos benfazeja, se não passatempo ligeiro e isso é você que decide, afinal...
           
            “Quantas estradas um homem precisa andar,
            Antes que o chamemos de homem/
            Sim, e quantos mares uma pomba branca
            Precisará cruzar, antes de poder dormir na areia?
            Sim, e quanto tempo ainda as balas do canhão
            Irão voar, antes de serem banidas para sempre?
            A resposta amigo está soprando com o vento.”
(Blowin the Wind) Bob Dylan
                                Trad. Vera Caldas - Rock a história e a glória/ 1976.  

            No mais vou dormir. Tenho outros filmes ainda para “escarafunchar,” e falo deles depois.

            Boa Noite e Boa Sorte!






terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Segredo


                Onde o segredo? Qual o segredo? Estamos aqui, assim. O que ou quem nos elege? Somos ou não o supra-sumo da criação?
                “A poesia é o que resta quando tudo se esqueceu da história e é tudo o que passa do imaginário a ordem simbólica da palavra humana. Devolver à história o que não lhe pertence e ao homem, o que não é ainda dele”. O necessário para sustentar, auscultar o coração; de um universo voraz e veloz.
                Tempo, selvagem o tempo. Dias selvagens, pobres, perdidos e, no entanto somente dias. Imagens, instantes. Sôfregos instantes que passam, perpassam esses dias. E na memória, nada resta. Instantes apenas, segundos equidistantes suprema energia. Magia. Ode ao Deus das infinitas certezas.
                E nós aqui, (E= mc2). Tempo e instante presente. Entre dois mundos: realidade e ficção, flores de celofane, amarelas e verdes.
                Vejam as garotas com a luz nos olhos, olhos de caleidoscópio.             
                “Climb in the back, with your head in the clouds”. Caramba! Laços simbólicos, e afinal, quantos “eus” existem em mim? O que resta de mim em minhas filhas?
                Amor, banhado de luz, energia. A força secreta a mover aos seres no mundo.
 “O decifrar dos mistérios”. “Não são as explicações a nos levar para frente, é a nossa vontade de seguir adiante.” Nossa infinita vaidade, de ter gerado tanta beleza. Minha humanidade dispersa. Una e benfazeja, assim te creio.
Amores, meus amores, pedaços espargidos de mim.
Á vocês o mundo!

Bento que bento é o frade, na boca do forno... Que joça! Eis-nos aqui.






Citações:
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Coelho, Paulo, 1947-. C619b. Brida / Paulo Coelho. – Rio de Janeiro: Rocco, 1990
Duflot, Jean... As últimas palavras do herege.
Pílulas: The Beatles


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vaidade


Foto: Rosemary Ferrari - árvore secular

Tudo aquilo que eu disse, não importa como,
Comporta a um todo, que eu nunca disse. Simples assim.
As bobagens que dizemos; impávidas asneiras.

A liberdade não garante excelência,
O criar não precede o voo.

O mais insípido dos prazeres, sempre será um prazer.
Toda besta é comovente,
Assim como todo o princípio é vão.

Tudo aquilo que faço é artimanha
Para ganhar sua atenção, enquanto caminho a esmo
Erguendo o lírio branco da inveja.

Obsessões, obsessões. Nós somos nossos anseios
Nutridos por sonhos e pesadelos
Fiadas e guirlandas de medos e receios
E sobre as certezas de Ruth edifico.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Flâneur Ataca Outra Vez



            Não poderia ser de outra forma, outro feitio. Ele voltou. Porque, para os não iniciados, uma rua é só um corte, uma artéria da cidade (bem entendido), pessoas e prédios, poeira e carros, barulhos mil e poluição. Mas para o flanêur, a rua é mais do que isso: “...a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma.... A rua é transformação das línguas... As ruas nos dão impressões humanas... A rua é um ser vivo e imóvel.” “...Há ruas que mudam de lugar, cortam morros, vão acabar em certos pontos que ninguém imaginara... A rua é a eterna imagem da ingenuidade. Comete crimes, desvaira á noite, treme a febre dos delírios, para ela como para as crianças, a aurora é sempre formosa, para ela não há o despertar triste e quando o sol desponta e ela abre os olhos esquecida das próprias ações é no encanto da vida renovada... Tão modesta, tão lavada, tão risonha, que parece papaguear com o céu...”
            Não poderia ser de outro modo, o retorno do flanêur, segue a risca ou tenta os ditames dos escritores João do Rio, Balzac e Stern (grande mentiroso, mas bom narrador de lugares e pessoas). E daí? Daí veio um tudo cultural, que nos permeia até agora, no nosso tempo. Somos formados, edificados, por nosso passado.
            Reconhecemos com facilidade os arroubos ainda senhoriais de nossa corte política, tresloucamos, mas ainda aceitamos, quando apanhados em flagrante delito, os ricos posam de inatingíveis, como se barões ainda fossem. Estamos em pleno século 21, mas nosso passado ainda se faz presente em nossa memória atávica, infelizmente, mais do que na visual. A destruição / remodelação, produzida por nossos políticos no início do século XX, levou embora muito das construções históricas importantes, principalmente as do período colonial, algumas ainda presentes, aí sim, felizmente, em nossas igrejas.
            Peregrinávamos, eu e minha esposa fotógrafa, pelas ruas ancestrais de nossa cidade. Procurava pelas citações de esquinas perdidas, locandas escondidas, pinturas murais em bares [próximo artigo]. Seguíamos a um corolário, que se revelou falso. Não encontramos o que procurávamos, e encontramos ao que não esperávamos. Já notaram como essa dubiedade da realidade é sempre prazerosa? Comigo ocorre amiúde, espero por algo, e ganho outra coisa, bem superior em benefícios. Pois, como dizia, andávamos... E andar no Rio 40 graus, a sombra é único.
            A cidade diminui seu tempo, pisa no freio, e resplandece. As pessoas estão mais irascíveis, é verdade, mas afinal estamos em plena globalização, disputas, sobe e desce de cargos, os patrões desapareceram, acima agora, os portadores de obrigações, ações, porções e essas pessoas estão em outros estados, outros países, outros planetas, enfim, (sempre quis dizer isso, e continuar falando, como todos fazem) as pessoas estão mais “nervosas"
            Talvez seja essa a palavra. Não importa. O Rio não nos engole como fazem outras metrópoles. O Rio é capaz de sozinho nos apaziguar, transmutar, ao nos oferecer as belezas às vezes recônditas de nossa cidade.  Entre essas maravilhas o Mosteiro de São Bento. Encarapitado sobre morro, em pleno centro do Rio, oferece sofregamente e regiamente, o regalo de suas inúmeras belezas arquitetônicas, artísticas e por que não dizer turísticas.
            Reverências Mouras, esculturas em madeira, riquíssimas filigranas. O Brasil é o país onde o Barroco tardio mais se expandiu e manteve um desenvolvimento bastante peculiar. Imaginem: século XVIII, nascimento do príncipe em Portugal, comemoração no Brasil, (Rio, São Paulo, Salvador e Pernambuco).
            “...Quem naquele dia, subindo a ladeira, se misturasse a multidão espalhada pela igreja dos religiosos de São Bento assistiria á realização de um espetáculo minuciosamente planejado para atingir o coração dos presentes por meio da atração que deveria exercer sobre olhos e ouvidos.”
            Paredes esculpidas em madeira e recamadas de folhas de ouro, intercaladas por esculturas em pedra, archotes colocados a intervalos regulares, que com sua iluminação bruxuleante, faziam com que as imagens ganhassem um vívido contorno; mesmo assim, as paredes eram recobertas por tecidos em cores vivazes, panos vermelhos, veludos debruados por fios de ouro e prata, recobriam aqui e ali as esculturas soberbas cento e vinte castiçais de prata no púlpito, iluminavam a Virgem de Montserrat, em uma aparente pirâmide de fogo.
            E acima de tudo a música, massa envolvente e harmoniosa, feita da soma de sons de instrumentos e vozes, a cargo da Irmandade de Santa Cecília. Na América e a época, única em saber e organização musical. O coro, instalado em parte elevada, acima da porta de entrada, acompanhava o órgão em evoluções gregorianas sacramentais. O coro efetuado pelos monges, investidos da obrigação de comparecer ao ato, colocava Montserrat, acima de todas as igrejas do Rio, quiçá, do Brasil.
            Creio que ainda hoje, os nossos religiosos crêem ser a missa em seu interior, nesses momentos de magia, o fator principal para o arrebatamento de nosso povo a época. Lindo o cenário! Mas não podemos esquecer que no período, poucos entendiam do latim balbuciado pelos padres. A soberba sede religiososa, não permitia a entrada do populacho, os escravos assistiam a missa do lado de fora, os homens ao fundo e a volta, as mulherese suas acompanhantes, açafatas e escravas, postadas ao centro da nave. Também havia disputas por posições nas laterais “...De acordo com a lógica dessa disputa, recebiam a cotação mais alta as áreas situadas nas proximidades mais imediatas da capela mor.”
            Falei, e falei. Vejam as fotos. Algumas prejudicadas pela proibição de uso do flash, mas assim mesmo corretas em mostrar o que foi o Barroco no Brasil.
Em outras,o milagre benfazejo de uma fé, que se esprai por todo um recinto, ainda e eternamente.
 Em uma, pecado, a fotógrafa, faz-me quase alçar a luz de virginal iluminação, que digo, não faz parte de meu eu, mas vá lá, é uma prova de amor, então que seja. Em outras mostro pequenos detalhes arquitetônicos importados de um Portugal esquecido. Em outras mais, O inigualável Rio. Peço que abstraiam a modernidade, se isso for possível. Imploro mais um pouco, foquem o olhar ao infinito, onde a baia desdentada, a boca banguela de Levy Strauss ainda corre, e vejam ao que o flanêur tanto procura, em sua infatigável caça do antanho.






























             A beleza ainda resplandecente do Rio, de ontem e de hoje.
             Acrescentamos fotos do Centro do Rio, para que creiam que o flanêur, permanece e se manterá impecável.





























Citações da bibliografia:
Cotidiano e vivência religiosa, entre a capela e o calundu- Luiz Mott
Brasil de Todos os Santos – Ronaldo Vanfas e Juliana Beatriz



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Irmão

        
         Parem as impressoras, detenham o prelo. Algo novo nasceu sobre o sol. Minha carne. Um dos pedaços de minha mãe, pariu arte.
         Incontestável instrumento artístico,  como soi  raríssimo acontecer hoje em dia.
         Criar é algo especial. É como um parto, e vê-la brotar é prazeiroso, é essencial.
         Porque é preciso deixar as máquinas fora do assunto. Criar é um brotar. Tem a ver mais com plantas que com humanos.
         Extrema delicadeza, assunto, prontidão de espírito, afabilidade e reconhecimento.  A tônica do criar. Um nobre paganismo ressuscitado, um frescor de antanho. Arte!
         Exata e contínua. Orgulho-me que ele a tenha alcançado a ARTE! Vejam só, a arte e seu meio são contemporâneos. Impossível, o contrário. Criar é estar em sintonia, é marejar o tempo.
         Esquecer de si mesmo. Transparecer na obra, como você conseguiu em música. Alcançar a  vida, que vai afoita aí a frente, construindo os mitos que atingiremos  e não entenderemos, sendo o principal a arte. E aí a vida, observando nosso assombro pergunta: _Qual o animal que de dia...  Não importa, você  agora sabe a resposta.  
        Nada da caricatura moral, que se lê hoje em dia, teu livro eu sei, traduzirá o sensível mundo que nos acolhe. E nas certezas de Ruth afianço.

         Um beijo irmão.