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"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Samba é Assim...


    
             
               
                Os hindus, em sua mitologia particular, consideravam a música, como uma força, um poder, extra-homem e natural. Uma força de e da vida. Viam o fruir da vida como possuindo dois aspectos: o bom e o voluptuosamente agradável, e diferenciavam os dois como escolha de sábios e tolos.
                A dualidade deste tipo de pensamento: bom e mau, certo e errado, esquerda e direita, Yin e yang, nos perapssa até hoje.. Criam os hindus, que aos sábios, o bom, seria a escolha acertada, visto as empulhações a que nossos sentidos nos expõem e são expostos, levando-nos a erradas definições, enquanto a simplicidade do agradável deixar-nos-iam entregues a facilidades de escolha do que é aceito, sem julgamento ou embate mental. Perfeito.
                Em resposta a árias e marchas a que nossos antepassados estavam expostos, criamos a mais formidável máquina de ritmos.
                No Brasil, seguindo o exemplo do planeta, que descobria gosto pela música negra, coronária, rítmica, o samba apareceu. Invenção de malandros, umbandistas, negros e capoeiras de escol, quando as agremiações carnavalescas, desfilavam ao som de polcas, árias, marchas e mazurcas.
                Sem acesso a variedade de instrumentos de seus irmãos do norte, os negros da América sulina aperfeiçoaram as batidas e utilizaram o violão. E jazz! Não, Zaz! “Isso aqui IOIÔ, é um pouquinho de Brasil...”
                Os negros saem de seus folguedos marginais, no sentido de periféricos, para o centro da roda da arte. São eles agora que ditam o ritmo. E esse é sincopado, malemolente, swingado, e sempre, sempre participativo. O sentimento toma outra vez partido. Partido alto.
                Ao final do império de Pedro, o segundo e último, Momo migra de Deus a Rei! Claro! De Deus menor de uma cultura bolorenta, a Rei de um novo País, promoção! Pois não?  E seus súditos se contorcem, sacolejam e trepidam. Alegria, ainda que tardia, ainda que só por aqueles dias. Os quatro da fuzarca, aos poucos das cantigas.
                Morrem lentamente personagens que se criam eternos. Os Dominós, os diabos, os Velhos os Zé pereiras. Morrem em figura, mas permanecem nos fiapos da memória. Permanecem na ativa. Disfarçados ou transmutados, açambarcados e fremidos, alguns emergem em outras figuras. Os Velhos, nos passos do dito samba, os Zé pereiras no agora redobrado e infinito bumbo, e seus primos, atabaques, pandeiros e taróis.
                Pindorama rediviva em arte e criação respira aliviada. A arte musical seguiu seu passo, contrapasso, anseio. Um povo, vários povos, negros, mesclados açambarcados, reclinam-se sobre toda uma cultura perdida, e recriam ao seu modo, com o estofo do novo mundo, uma nova e exuberante cultura, donde o samba emerge, supremo, altaneiro, talvez a maior arte musical, criada na América.

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