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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Menino


Porque havia sido escolhido o local,
Delimitado, sancionado.
Porque os que para ali se dirigiriam saberiam onde estariam.
As arestas foram então distendidas.
Agigantaram-se as certezas, pois um local havia sido estremado,
Cumprindo assim os vaticínios.
Todos os de sangue semelhante, e os de sangue requerido,
Singraram então as correntes da dúvida e da perspectiva.
O medo do incógnito e do real dos umbrais do mundo.
Não exigir ser livre e não estar sujeito,
Souberam depois, algo havia sido solicitado.
Sem égide, rito, ícone ou figura.
Indelével no mundo, o abstrato da raça,
Pediria apenas tangível reverência
Pois sabia, que dali a frente, o absoluto, ruíra.
Uma noite eles chegaram.
Os pastores em seu movimento anunciaram.
Todos os pequeninos acorriam.
Vozes sussurrantes  no dia, veementes ao escurecer,
Floridas de histórias, eivadas de sonhos.
Luz a industriar a melancolia em esperança
Aclarar a decência, sanar o mal,
Sarar a fome e a sede de pão, verdade e amor.
Naquela noite, três homens estiveram presentes
Ao nascimento do menino.
Os pergaminhos riscados partiram túrgidos da história,
Da parturiente e do menino.
Transformaram-se em lendas, escárnio, canções,
Blasfêmias, sonhos, relicários, livros e esperanças além.
Naquela noite a palavra fez-se carne.
Morreram dúvidas e a melancolia.
A vida tornou-se mais do que nascer ou morrer.
A luz do mundo eclipsou a do Oriente, do Ocidente e mais, 
Provou que a incerteza, sempre esteve, nos outros,
Fé não era mais magia,
Fora da lógica ilógica das religiões, subsistia a palavra,
Além de toda e qualquer desesperança.

De Heróis a Dragões


            “...Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu, na figura de um bravo feiticeiro, a quem a história não esqueceu”
            Confortando obviamente a Nina Rodrigues, o primeiro, talvez a afirmar que “todas aas classes sociais do Brasil, compartilham feitiços”, acreditamos ter visto Francisco Nascimento e João Candido, um dia caminhar por sobre essa terra. E por que não dizer? Afianço então solto ao repto. Quantos mais foram grandes e não se sabe? Os dois aí de cima, são heróis negros verdadeiros, o dragão original e sua reencarnação.
            Heróis reais, que apostaram o mais caro ao ser humano. A vida. Heróis, não de latão ou bronze, como os que se avizinham nas praças. Que os pombos nos vinguem!
Sátira e liberdade. Luiz Gama e sua verdade. O negro que se fez advogado e defendia qualquer um que exigisse alforria, do eito, da clausura, da venda obrigada e de serventia.
            Quando afinal, seus nomes por hagiologia, se ouvirão nas esquinas, ribombando nas lonjuras desse Brasil?
            Darcy Ribeiro dizia: que todo brasileiro, pleiteia ser descendente de índio, a identificar-se como negro. Mesmo um bugre, trazido na correia e abaixo de chibata pé no chão seminu, imberbe, seria preferível tê-lo como avô. O brasileiro talvez o creia mais altivo.  Preferiram, talvez, serem netos de Peri há de um mero passageiro de “tumbeiro”.
            Quantos conhecemos de cabelos alvoroçados, narinas túrgidas lábios espalhados, pele trigueira? Alguns proferirão rápido: meu avô índio, de sangue Goytacaz, isto é dele, chefe nobre da tribo de Campos. Uma avó perdeu-se, que fazer?  Por isso o tempo não me marca, os anos não me chicoteiam.
            Uma forma velada de racismo narcisista retrógado, se isso é possível. Uma parte pretensamente baseada na pureza dos índios, conforme escritos de Rousseau, Montaigne, outra parte claro, flutuando. Aí sim, na mais pura ignorância.
            Poucos quererão ou afirmarão impávidos. Meu sangue negro trago impresso em minha fronte, meu cordão de sangue, herdei de minha mãe, pai, avô ou avó, essa perene certeza, que minha pele configura
            Mãe Aninha Tia Ciata, Mãe Nassô, Juca Rosa—Axé!


domingo, 5 de dezembro de 2010

Robson Crusoé

   
Tenho tempo bastante,
Comida bastante,
 A bebida que suporto
E toda a raiva do mundo.

Telegrama fonado segue...
Quatro palavras e uma obscenidade.

Toca o telefone, não atendo.
Ponto parágrafo íntimo.
Eu, o desmoronador de mim mesmo, insisto.
Aquele que acusado foi, de amar só a si,
Tropeça agora em seu festim, suspenso em bravatas e sedado.


sábado, 4 de dezembro de 2010

Reviravolta Rio

            O Titãs: as polícias civil e militar reunidas e reforçadas, a elementos das forças armadas desbarataram parcialmente á quadrilhas do tráfico. Trouxeram mesmo pelo cabresto a Zeu, corruptela do deus grego. Músculos aparentes, pelos fartos e olhar de corça assustada. Uma Titanomaquia escrita pelo crioulo doido do Stanislaw. Á vera, um show ao nível dos perpetrados pelo EUA, por aí e acolá, morram de inveja, americanos brancões!
Foto: francês JR - Mulheres São Heróis-Providência-RJ
  
            Como dizia, Zeu foi destronado. Assistimos mesmo a diversos Mercúrios, com suas lépidas sandálias, voando baixo em direção a outro morro enquanto Cronos despejava da sua ira em forma de chumbo quente. Cá prá nós, como tinha mensageiro esse Zeu!
            Outra vez, Zeu, acorrentado e meio que cabisbaixo, seguiu para o Hades. E aí passamos a aulas de decoração, logística, e destemperos mil.
            Como carregar toneladas de erva ladeira abaixo. De novo, só entre nós... Só duzentos quilos de pó? Três toneladas de maconha, armas a mancheias e só aquilo de pó? Tem mais aí! Revira esse covil.  O que segura à boca é o pó. Pelo baixo preço maconha é ralé. Não dá para levantar o arreglo só com erva. As pedras e o pó são o “leitinho das crianças”, Titãs e engravatados.  Revira isso aí, pô!
            E os destemperados! Cansados de ter que construir programas apoiados no que a Globo bota no ar, é, existem programas que sem a Vênus platinada, não teriam porque existir. As tv’s descobriram que programa policial continua vendendo, então trouxeram para tela ao “Patrulha da Cidade”, só que apimentaram ao troço. O apresentador agora se transmutou em juiz, advogado e promotor. Um dos mais famosos entrevistava mesmo ao Senhor Chefe da Polícia civil, quando aproveitando que ele trocava de cadeira, (o entrevistado anterior retirava-se) e virando para a câmera, vociferou, naquele tom e com a boca cheia de algo, (creio que algodão): “Não falei que tinha que escrachar?” Seguindo outras diversas afirmações peremptórias, enquanto o entrevistado olhava, meio que constrangido.
            Veremos surgir agora á diversos “pais da coisa”. Vaticinadores de plantão. Aqueles que agouram e agouram até o momento em algo ocorre, e eles possam dizer: “não disse?”
                        Falta abrir os livros da contabilidade e refazer o caminho tomado pela grana e chegarmos ao verdadeiro luxo, aos Olimpos.
            Outra coisa, do mesmo. Se os livros ficaram, a fuga foi muito rápida, não deu para prender ninguém, não? Daquela locanda, ninguém brotou não...
            Mesmo assim, de qualquer ângulo, quesito ou avaliação, foi muito bom. Pela primeira vez, consideramos como muito proveitoso, um político visitar a outro país, que está ganhando sua luta quanto a máfia em áreas pobres, retorna ao nosso país, implanta e adapta essas idéias.
            Pela primeira vez, um político, arregimenta quadros historicamente e ridiculamente tão díspares quanto nossas forças de defesa (e ataque) e faz com que elas trabalhem em uníssono, perfeito. Só não podem parar. Pontual só o sol. A bandidagem continua a operar. Mesmo onde existem as UPP’s, o tráfico continua. Acabaram as armas em riste, os bailes funk’s madrugadas adentro, está ótimo, mas não perfeito.
            Faltam ainda os investimentos nas áreas carentes, falta retirarem os que habitam as áreas de proteção ambiental, turísticas e de nascentes.           Falta um mundo de coisas. Mais pelo menos foi dado à partida, na qual a população está apoiando e almejando de fato dias melhores “... pro dia nascer feliz...”