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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De Heróis a Dragões


            “...Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu, na figura de um bravo feiticeiro, a quem a história não esqueceu”
            Confortando obviamente a Nina Rodrigues, o primeiro, talvez a afirmar que “todas aas classes sociais do Brasil, compartilham feitiços”, acreditamos ter visto Francisco Nascimento e João Candido, um dia caminhar por sobre essa terra. E por que não dizer? Afianço então solto ao repto. Quantos mais foram grandes e não se sabe? Os dois aí de cima, são heróis negros verdadeiros, o dragão original e sua reencarnação.
            Heróis reais, que apostaram o mais caro ao ser humano. A vida. Heróis, não de latão ou bronze, como os que se avizinham nas praças. Que os pombos nos vinguem!
Sátira e liberdade. Luiz Gama e sua verdade. O negro que se fez advogado e defendia qualquer um que exigisse alforria, do eito, da clausura, da venda obrigada e de serventia.
            Quando afinal, seus nomes por hagiologia, se ouvirão nas esquinas, ribombando nas lonjuras desse Brasil?
            Darcy Ribeiro dizia: que todo brasileiro, pleiteia ser descendente de índio, a identificar-se como negro. Mesmo um bugre, trazido na correia e abaixo de chibata pé no chão seminu, imberbe, seria preferível tê-lo como avô. O brasileiro talvez o creia mais altivo.  Preferiram, talvez, serem netos de Peri há de um mero passageiro de “tumbeiro”.
            Quantos conhecemos de cabelos alvoroçados, narinas túrgidas lábios espalhados, pele trigueira? Alguns proferirão rápido: meu avô índio, de sangue Goytacaz, isto é dele, chefe nobre da tribo de Campos. Uma avó perdeu-se, que fazer?  Por isso o tempo não me marca, os anos não me chicoteiam.
            Uma forma velada de racismo narcisista retrógado, se isso é possível. Uma parte pretensamente baseada na pureza dos índios, conforme escritos de Rousseau, Montaigne, outra parte claro, flutuando. Aí sim, na mais pura ignorância.
            Poucos quererão ou afirmarão impávidos. Meu sangue negro trago impresso em minha fronte, meu cordão de sangue, herdei de minha mãe, pai, avô ou avó, essa perene certeza, que minha pele configura
            Mãe Aninha Tia Ciata, Mãe Nassô, Juca Rosa—Axé!


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