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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

sábado, 30 de outubro de 2010

Festa do Chá

               Falei no texto sobre Marilyn, que os Estados Unidos da América, formam um povo estranho e agora me arrependo disso, pois mesmo a família, tem posições diferentes, Agora ouço ao panfletário e ao arredio perfumista social, o embotador de sentidos, e ao alforriador de sentimentos. Persigo-me.
               Senhoras, senhores e senhoritas, disse isso como desembuche, mas que é bem verdade isso é... se não, sigam...
               Qual país após um horroroso ataque terrorista alvejaria e destruiria outro, exemplificando isso como caça a criminosos? Qual país é capaz de tomar as medidas mais arbitrárias contra outro, na certeza de uma impunidade política mundial? Qual país enviaria sua juventude dourada, para invadir outra nação baseado em contos da carochinha, acerca de armas de destruição em massa. Qual país consegue segregar o ódio irrestrito mesmo a plácidos turistas de bermudas meias e sapato, espalhados pelo mundo? Qual país mesmo depois de haver perdido a uma guerra causada por sua própria falta de tino político, engendraria formidáveis filmes em que o agredido é um carniceiro incorrigível e ele, o herói americano é a cura, a toda aquela querência política esquerdista? Qual país possui a tão formidável poder técnico científico, capaz de saber quais incríveis e venenosos níveis de poluição despejam e mesmo assim recusam-se-a coibir que tais níveis venham a aumentar. Qual país torra literalmente fortunas, que poderiam vir a salvar da ruína a nações inteiras, em honra às guerras, em que nem seus próprios dirigentes acreditam? Qual país faz propaganda de ser a terra da liberdade e prosperidade e organiza a caça irrestrita a todo pretenso “invasor” de seu Estado?
               Nos Estados Unidos, o messianismo toma forma e vira gente, se duvidarmos todos os dias, graças à impoluta mídia. Eles são medrosos, mas vendem-nos a soberba, são garbosos, mas querem que aprendamos a não o ser. Cultuam ao herói solitário, presente em seus filmes, livros, arte. Os que se fazem sozinhos, pontuam agora ao direitismo que dia a dia toma espaço na antiga e ferrenha democracia.
               O movimento do Tea Party, um movimento populista, recebe grossos subsídios de grandes empresas, enquanto tenta minar a governabilidade de seu próprio presidente. Estranho é que o movimento engloba tantos conceitos e desejos, que a resposta política interna tende a anular o processo político. Então por que crescem seus participantes? Por que o subsídio indecoroso de empresas petrolíferas, que em tese, nada lucram com esses movimentos? Eles são os maiores expoentes culturais do mundo. Técnica e estudo, cultura de massas e política, arte e mídia. Temos a impressão por vezes, que o século XX, foi invenção deles. Eles são tão “crentes” em sua superioridade, que tendem a falar mal de si mesmos em suas obras, mesmo “filmecos” que correm o mundo, dinamitando sua propaganda externa. As mensagens da Casa Branca, e Wall Street, chegam diferentes das que seu povo observa: nos seus empregos e lares.

                Concordam agora? ETA povo estranho!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A ARTE É UMA ILUSÃO



               Arte é o que nos move, motiva pensamentos e sentimentos de criação análogos.
Pensava nisso, quando me ocorreu a figura de Marilyn Monroe. Atriz ícone do cinema estadunidense, morta aos 36 anos.
     Utilizo sua figura pelo acréscimo de simbolismo que ela mantém, pelo ultrapassar das modernas definições que sua arte alcançou. Utilizo a forma arquétipo mais presente em nossas lembranças, o sexual. Porque mais comum, porque mais fácil de reconhecer.
     As três fotos a mostram em fases distintas da carreira. Jovem estrelinha, estrela e em sua última foto, na verdade uma de uma série de muitas, tiradas pela Life, semanas antes de sua morte e só publicadas após seu passamento.
     Marilyn surge como o símbolo perfeito para a era que se descortinava. Sua morte em 1962, a de Kennedy em 1963 e a chegada dos Beatles em 1964, pontuam e deflagram os anos 60, por sobre as tumbas do Vietnã. Sobrevivendo como égide, a Guevara, Elvis, James Dean, sua figura significa e exemplifica agora, o que nunca foi, uma época que não lhe pertenceu de fato, uma liberdade que só viria logo depois que dobrasse a esquina da vida. Mesmo não tendo seus filmes no circuito televisivo popular, uma mostra de suas fotos recentemente, exposição do fotógrafo Albert Stern, lotou os lugares onde foram exibidas, aqui no Brasil.
     Escândalos ajudam, por certo, sexo também, mas é sua aura ainda a exalar a modernidade que outros “ícones” perderam,que clama por análise. A causa de sua morte, envolta em mistério, pretenso relacionamento com Kennedy, envenenamento, os abusos que teria cometido e que teria sofrido, sua mãe louca, o pai desconhecido, nada enevoa sua aura, antes, a amplia.
     Assim como Dean, esmerava-se para manter sua técnica e aprender mais. Já estrela, cursou o Actors Studio, para livrar-se da Fox, fundou sua produtora. A diferença residia em sua inabalável crença, crença na arte. A leitora compulsiva permanece uma desconhecida, quando poemas e anotações suas são publicadas, ainda a pouco, não surpreendem a quem pôde antever.
     Marilyn queria soar real, mais do que parecer, ser atriz. Era um paradoxo constante, que só faria sentido pouco depois de sua passagem com a chegada da contra cultura. Tinha perfeita noção de ser um personagem, referia-se a si mesma, quando em reuniões de negócio, na terceira pessoa. Criou o símbolo Marilyn, baseado em outras atrizes que a antecederam, mantinha em seu camarim, uma foto de Jean Harlow, a loura platinada, mas ampliou e fundou ao quase estado de espírito do que seria “ser uma loura” para todo o sempre: positiva ou negativamente. Construiu-se como mito. Trazendo da vida, o que as pessoas queriam ver. A idealização de seus sonhos, libidinosos que sejam. O fetiche certo para uma época de ouro da arte, que em suma fetiche também o é.
     Elvis ainda vende discos CD, tanto quanto Hendrix. Dean, de vez em quando, tem seus filmes comentados e a pouco, foram feitos novos estudos acerca de seu acidente, revelando sua culpa na colisão que o vitimou. Guevara, que foi inspiração rebelde durou pouco. Os novos ares do mundo não sopram mais idealismo vazio, todavia transformou-se em decoração de loja, cercado de bandeiras vermelhas. Contudo, majoritariamente, dependem do mercado dos Estados Unidos para se manterem como figuras do mito, mitos mortos então, cada vez mais definitivamente, enquanto ela permanece mais do que lembrança, estado de espírito, os outros retidos em seus escaninhos datados, ela etérea.
     Qual mulher que nos 50 e 60, reconheceria que gostaria de ser como Marilyn? Poucas nos EUA. De qualquer forma, logo depois estavam queimando os sutiãs, encurtando saias e vestidos, fumando, declarando o amor livre. Pode-se entronizar Mary Quant, Betty Friedan, Indira, Pagu, mas libertadora mesmo foi Marilyn. Engraçada, sensual, ingênua, linda, bonita, meio feiosa, faladora, a todos os estereótipos da comédia ligeira, ela percorreu (e não entenda comédia aqui, como graça do riso). Claro, que com toda a dor que esse tipo de libertar acarretou. Mas hoje aqui estão elas, com todos os dividendos e resgates da vida mais moderna, que Marilyn ajudou-as a vivenciar. Não fosse os americanos um povo tão esquisito, reconheceriam seu pioneirismo, trabalhando na indústria da mimese por primazia, não se furtava a escancarar suas intimidades, enquanto os Rock’s Hudson’s escondiam-se, isso sem perder nada de sua graça e fama. Uma artista, ainda a outorgar sua inspiração, há tantas pelo mundo. A transgressora por excelência, para um mundo já cansado de transgressões.

sábado, 16 de outubro de 2010

Ideologia e Passa Tempo


            Qual Fidípedes acabo de emergir de uma maratona filmo gráfica.  Ao todo 04 filmes em linha, com direito a salgadinhos e farta munição de pipocas. Os pretensos acepipes atendem por, “O livro de Eli”, “O Show deve Continuar”, “A Caixa” e “Os Homens que não amavam as Mulheres”. Desse acervo, um é bem antigo, segundo a cultura atual que compartilhamos. “O show...”, é de 79, os outros são novos, mas “O livro de Eli” e “A Caixa” foram exibidos nos canais por assinatura.
            Depois de tamanha imersão, fica difícil não lembrar uma frase de um conhecido escritor que disse: “A vida é uma fábula contada por um idiota, cheia de som e fúria, e quase nada significa”. Para “O livro de Eli”, essa sentença serve como epígrafe e lápide. Os redatores americanos seguem ali, seu conhecidíssimo, manjadíssimo e cansativíssimo, corolário de mesmices, citações, planos sequências, explosões, espadadas, porradas, murros e exclamações impublicáveis; isso sem falar de boas ideias desperdiçadas a esmo.
           Houve um tempo em que Denzel Washington e Gary Oldman poderiam ser levados em conta como atores e há muito nos devem bons filmes. A ideia do “O livro de Eli,” não é má, mesmo esgarçada, de tão utilizada. Futurismo primário e linear. Farta distribuição de pancada, em meio à fome e sede generalizada. Sabem, às vezes penso que esse tipo de filme, tem campo porque pode ser feito rápido, e escondem quão pobre e barata, no sentido monetário, são as tais “superproduções,” embora na mídia apareçam como orçadas sempre, em milhares de dólares. Não é para acusar, não, mas tem alguém ganhando muito com isso. E dá-lhe de indivíduos idiotizados, maltrapilhos e sujos, locações de areia e poeira, como na história quase não existe gasolina, não existem veículos, salvo o do bandidão, mas só próximo ao final ele surge. Iluminação para que, se a Terra foi devastada? Então vamos de luzes esmaecidas e meio lúgubres, tons sépia e tudo o mais, que o final dos tempos não vai ser moleza mesmo. Tudo visando deixar espaço para as “evoluções” samurais do protagonista. A fotografia é boa, mas desnecessária, a trilha é boa, gosto um pouquinho do Rock, mas não marca. O final é como tudo o mais ali, previsível. De bom, a ideia de o livro ser aquele... Mas ter sido de outro jeito... Não vou “entregar.” Deve ser por isso, que filmam a desenhos animados e histórias em quadrinhos. Acabaram as ideias, os cineastas, e o público adulto, estamos na era da idiotia e da eterna adolescência.
            Já o filme “A Caixa” gostei, e ponto. Boas ideias, pouquíssimos efeitos, e uma boa história, com fundo moral e filosofia rasteira, pitadas de suspense e ficção científica. O sempre bom, Frank Langella, a ex-bonitinha, Cameron Diaz, e o X Men James Marsden. O problema é o tempo. Parece que estava vendo a um episódio de Além da Imaginação que não acabava (é, sou desse tempo), porém um razoável filme, que custou caro e foi mal no circuito americano.
            “Os Homens Que Odiavam as Mulheres” em alguns momentos é muito bom. Em outros, muito ruim (pareço comentarista de futebol, não?). Trata-se de um filme, baseado em Best seller, que “não li, e não gostei.” É ágil e com suspenses bem colocados. Prende a atenção, (só isso, hoje em dia, já soa honroso)
É daqueles filmes com um mistério a ser decifrado aos poucos, por um jornalista burro e uma punk, hacker, motociclista. De negativo, apenas o carregado nas cenas de violência. Estupros gratuitos e catárticos incomodam-me muito. Não, não sou moralista, mas cenas como essas me parecem forçadas e propositais. São longas, para justificar a todo o ódio que virá depois, na sempre presente retaliação. Tanto ódio, tem me cansado.
A mania germânica de promover ao “meã” culpa nazista, também, mas o filme é bom. Ah! O texto não é americano! É de um Suíço, que ficou muito famoso, como defensor dos direitos humanos naquele país, e morreu antes de ver o sucesso literário de sua trilogia, da qual esse filme é a primeira parte.
            Agora sim, o biscoito fino, a cereja do bolo, a coroa, o que parece faltar em noventa e nove por cento dos filmes atuais a ARTE. “All That Jazz” ou como passou no Brasil, “O Show Deve Continuar.” Bob Fosse, coreógrafo da Broadway, e do cinema, com temáticas sensuais, inspiradas no Vaudeville. Estupendo em Cabaré, supremo aqui. E não poderia ser diferente. ”O Show Deve Continuar,” trata da pretensa filmagem de uma peça a estrear. Os investidores, produtores, qual abutres, rondam ao artista, que cercado por ex-esposa, filha, e amantes, prepara novos bailarinos, para novo “parto artístico,” enquanto desesperado, por bloqueio criativo, pressões as mais variadas, consome medicamentos, fuma desbragadamente, e copula amiúde, com todas as que consegue agarrar. A montagem do show segue, com direito a ensaios, flash back, imagens oníricas em que a morte, composta por Jéssica Lange, dialoga com Roy Scheider, travestido de Bob. As imagens em flashback, com direito a mãe, bailarinas de boate, cenas televisivas e todo um passado de luta, dão liga, para o caos que se avizinha, o choque cardíaco do coreografo, que mesmo internado não para de imaginar sua obra, que em cena sobreposta, aparece negociada para outro diretor, enquanto os produtores, chegam a conclusão de que ela dará mais lucro, se não estrelar. Trata-se de um musical travestido de biografia, ou de um “documentário” musical. É tudo isso, e mais, a abertura a cargo de George Benson cantando “On Broadway” é fantástica! O final, com Bob-Roy, despedindo-se dos amigos, em meio ao show final de sua vida, é perfeito. Cinco indicações ao Oscar. Quatro estatuetas. Uma antevisão do seu próprio fim, que ocorreria em mais alguns poucos anos, e pronto. Bob Fosse devolveu a magia dos musicais, dos diálogos irônicos, da atuação de bons atores, de uma direção mais do que correta.
           Fiquei pensando no tempo que gastei vendo integralmente a tantos filmes, e bastaria um, para que sentimento de completude, indagações mentais, satisfação, revisão de cenas, músicas ainda ribombando na memória, aquelas coisitas, que só a verdadeira arte proporciona, tivessem me alcançado.

POLÍTICO

Admito ao dedo em riste, como se faca o fora,
Brandem-no a esquina de meu nariz,
E babam, ora se babam...
Graças, a tara não conseguir tocar-me, queimaria.
Com Certeza queimaria.
Vociferam os cachorros loucos.
Ganem em minha sala, desde as inauditas horas
Que havia reservado para viver.
Adentram untuosos, com seus olhos rútilos,
Fugazes olhos de cães de guarda.
A mesma certeza doentia que eles fremem,
Inundarme-ia à alma.
E talvez eu entendesse de uma vez por todas,
O que eles falam. Turrões.
Pasmem, tantos a querer servir-me.
Carismáticos, tanto a exaurir em suas revelações,
Túrgidos de amor social,
Reverentes, ansiosos. Torpes.
E resta tanto por fazer...
Resta o que não foi domado, tomado, decidido,
Resta o adiado, porque esse é um país latino,
Ladino, ”latrino”; muito há por perpetrar. Ladrões.
Que se espane o que não foi decidido.
Que a suprema corte não se embote com crimes do passado,
Com levantes marroquinos. Cramulhões.
O que o corso quer não se fará, justiça.
Absoluta, impretérita, inabalável JUSTIÇA!

            Pessoal, muito está sendo dito pouquíssimo falado. As pesquisas estão sendo manipuladas, nada mais explicaria o abandono de informações que sombrearam Marina e não se bradou, nem ela, por razões comerciais talvez.
            Esse é o momento em que o pequeno partido tenta fazer seu escambo particular, e o candidato, na verdade já está alijado dessa permuta. Quem chatina, não enguiça. Decisões inabaláveis pendem do varal imaginário. Preparam-se para mexer na CLT, sintam ao capital túrgido adentrando as nossas brandas premissas! A suprema corte reúne-se em debates acerca do isso e do daquilo, mas não inferem nunca.
            Suportes as leis existentes precisam ser votadas. Gerenciamento de salários, de cargo político, precisa ser fixado. Decisões congressistas sem publicação precisam ser coibidas. Aumento no nível de poluição, quebra das poucas barreiras ecológicas, que temos, precisam ser revistas. Crescimento desordenado das comunidades, que adentram o que nos resta de nossa mata atlântica, despoluição de nossas baías, são prioridades, ou deveriam ser para qualquer homem público, de um país como o nosso, mas isso não acontece. Discute-se o já definido. Se somos um país laico, não há por que tornar ao mesmo rame-rame.           Enquanto isso, “... todos os nossos males, até os morais, são consequência de nossa inominável miséria”, como disse Monteiro Lobato. Miséria cultural, mental, espiritual, acrescento. Algo está se agigantando no horizonte, e não são aviões de carreira. 


Vagalume - NOVO TEMPO - Ivan Lins

Vagalume - NOVO TEMPO - Ivan Lins

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Calígula

            Foi num sábado, um dos sábados que me assolam volta e meia. E aos sábados, quem é casado sabe, a escolha do programa é dela, no caso, delas; pois partimos para o teatro, tangidos por minha mulher e prima e amigas, e respectivos maridos, um séquito.  A peça escolhida foi Calígula. Peça escrita por Camus em 1939 e reescrita até a versão final em 1944. Desnecessário dizer que a presença de Tiago Lacerda, havia acendido o lúmen humanista e existencialista das meninas. Das que nos acompanhavam, e das que já estavam lá. Uma festa. Teatro lotado, sorte que comprei antecipados os ingressos.
            Já aboletados, ouço a uma mocinha, falando a uma senhora, mas ainda muito bonita, que no terceiro ato ele tira a roupa. Confesso assustado que não esperava por isso. Pouco sabia da peça. Havia lido a “O Homem Revoltado” (coletâneas de textos de Camus), onde muito das ideias humanistas de Camus, são colocadas em aberto, ideias que já o acompanhavam quando da redação final da peça, e nada havia sido comentado da nudez do personagem principal. Temi então por uma “forçada de barra’’ da produção, o que verifiquei não aconteceu, o Tiago, NÃO TIRA A ROUPA!!!
Tenta sim, tirar sua alma e mostrá-la a plateia, e o consegue em alguns momentos.
Um senhor atrás de nós comentava sobre a pretensa pornografia do Calígula cinematográfico, em que devia sua pretensa fama, as constantes proibições de exibição nas redes televisivas. Todos se esquecem ou não sabem da grandiosa armação dessa antiga “produção’’ da Penthouse, sim, a revista americana de mulher pelada!  Filme esse, que os próprios artistas renegam a participação, usada e abusada pelo editor da revista que adicionou sequências pornográficas inteiras. Uma armação ridícula, o filme, não a peça, essa.tem seu palco arrumado com um trabalho cênico bonito,  inovador, econômico , mas para algumas cenas, subutilizado .
            As pessoas que esperam por um Calígula histórico, chocam-se ou não entendem que o que observam, não é ao imperador romano, neto de Cláudio, mas a uma figura retórica, que significa em quase todos os atos, a nós, os assim chamados seres humanos. Desnecessário lembrar, que o mundo produzia a  época o lamentável morticínio de milhares de seres humanos, na segunda guerra, da guerra fria, Coréia, grande marcha, Gulags, havia morticínio para todos os gostos e desgostos. É disso que trata a peça. Da loucura,do horror, como dizia o major Kurtz, psicografado por Coppola, mas isso é um filme, quevirou um livro, escrito por um britãnico,  que na verdade era Polonês, adorava o mar e escrevia em  inglês castiço.
            Calígula era cidadão romano e Camus cidadão do mundo. A peça é a mais famosa do escritor, o que não impediu que Sartre e a camarilha, comunista francesa, rompessem com Camus, pelos aspectos particulares e individualistas de seu pensamento. Lembre-se, que na época, individualismo foi crime, crime de lesa pátria.
             Tiago é um bom ator, é novo e seus companheiros de elenco, na maioria, estão corretos em suas atuações, nenhum grande arroubo, nenhum frisson, corretos. Por vezes, monocórdicos. A atriz Magali Biff, ressalta-se, pelos “cacos’’, que criam momentos levemente engraçados, forçando a uma pausa no drama, e no sorriso, sente-se a plateia mais descontraída. Emoção, a peça tem demais, falta, em minha opinião,  ritmo. Ouve-se a pouca música. Ela poderia pontuar mais, permitindo aos atores explanar suas emoções mais comedidamente, sem arroubos de gritos e inflexões desnecessárias. A direção poderia ter exigido mais da presença de Tiago, em seus muitas vezes repetidos gestos de desespero, e que às vezes, dificultam ao entendimento do texto, de resto, bem recitado.
Tiago precisa perseverar. Tem a vontade, e isso é quase tudo. Surpreende pela entrega, não se espera do galã, mais do que um arquear de sobrancelhas. Lembremos que Tiago emula aos grandes canastrões construídos por mídias e processos associativos mentais antiquíssimos, da estirpe de Douglas Fairbancks, Clarck Gable, Tarcísio Meira e etc. Em sendo assim, ele está no bom caminho, resta manter-se nele .