Páginas

Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

sábado, 16 de outubro de 2010

Ideologia e Passa Tempo


            Qual Fidípedes acabo de emergir de uma maratona filmo gráfica.  Ao todo 04 filmes em linha, com direito a salgadinhos e farta munição de pipocas. Os pretensos acepipes atendem por, “O livro de Eli”, “O Show deve Continuar”, “A Caixa” e “Os Homens que não amavam as Mulheres”. Desse acervo, um é bem antigo, segundo a cultura atual que compartilhamos. “O show...”, é de 79, os outros são novos, mas “O livro de Eli” e “A Caixa” foram exibidos nos canais por assinatura.
            Depois de tamanha imersão, fica difícil não lembrar uma frase de um conhecido escritor que disse: “A vida é uma fábula contada por um idiota, cheia de som e fúria, e quase nada significa”. Para “O livro de Eli”, essa sentença serve como epígrafe e lápide. Os redatores americanos seguem ali, seu conhecidíssimo, manjadíssimo e cansativíssimo, corolário de mesmices, citações, planos sequências, explosões, espadadas, porradas, murros e exclamações impublicáveis; isso sem falar de boas ideias desperdiçadas a esmo.
           Houve um tempo em que Denzel Washington e Gary Oldman poderiam ser levados em conta como atores e há muito nos devem bons filmes. A ideia do “O livro de Eli,” não é má, mesmo esgarçada, de tão utilizada. Futurismo primário e linear. Farta distribuição de pancada, em meio à fome e sede generalizada. Sabem, às vezes penso que esse tipo de filme, tem campo porque pode ser feito rápido, e escondem quão pobre e barata, no sentido monetário, são as tais “superproduções,” embora na mídia apareçam como orçadas sempre, em milhares de dólares. Não é para acusar, não, mas tem alguém ganhando muito com isso. E dá-lhe de indivíduos idiotizados, maltrapilhos e sujos, locações de areia e poeira, como na história quase não existe gasolina, não existem veículos, salvo o do bandidão, mas só próximo ao final ele surge. Iluminação para que, se a Terra foi devastada? Então vamos de luzes esmaecidas e meio lúgubres, tons sépia e tudo o mais, que o final dos tempos não vai ser moleza mesmo. Tudo visando deixar espaço para as “evoluções” samurais do protagonista. A fotografia é boa, mas desnecessária, a trilha é boa, gosto um pouquinho do Rock, mas não marca. O final é como tudo o mais ali, previsível. De bom, a ideia de o livro ser aquele... Mas ter sido de outro jeito... Não vou “entregar.” Deve ser por isso, que filmam a desenhos animados e histórias em quadrinhos. Acabaram as ideias, os cineastas, e o público adulto, estamos na era da idiotia e da eterna adolescência.
            Já o filme “A Caixa” gostei, e ponto. Boas ideias, pouquíssimos efeitos, e uma boa história, com fundo moral e filosofia rasteira, pitadas de suspense e ficção científica. O sempre bom, Frank Langella, a ex-bonitinha, Cameron Diaz, e o X Men James Marsden. O problema é o tempo. Parece que estava vendo a um episódio de Além da Imaginação que não acabava (é, sou desse tempo), porém um razoável filme, que custou caro e foi mal no circuito americano.
            “Os Homens Que Odiavam as Mulheres” em alguns momentos é muito bom. Em outros, muito ruim (pareço comentarista de futebol, não?). Trata-se de um filme, baseado em Best seller, que “não li, e não gostei.” É ágil e com suspenses bem colocados. Prende a atenção, (só isso, hoje em dia, já soa honroso)
É daqueles filmes com um mistério a ser decifrado aos poucos, por um jornalista burro e uma punk, hacker, motociclista. De negativo, apenas o carregado nas cenas de violência. Estupros gratuitos e catárticos incomodam-me muito. Não, não sou moralista, mas cenas como essas me parecem forçadas e propositais. São longas, para justificar a todo o ódio que virá depois, na sempre presente retaliação. Tanto ódio, tem me cansado.
A mania germânica de promover ao “meã” culpa nazista, também, mas o filme é bom. Ah! O texto não é americano! É de um Suíço, que ficou muito famoso, como defensor dos direitos humanos naquele país, e morreu antes de ver o sucesso literário de sua trilogia, da qual esse filme é a primeira parte.
            Agora sim, o biscoito fino, a cereja do bolo, a coroa, o que parece faltar em noventa e nove por cento dos filmes atuais a ARTE. “All That Jazz” ou como passou no Brasil, “O Show Deve Continuar.” Bob Fosse, coreógrafo da Broadway, e do cinema, com temáticas sensuais, inspiradas no Vaudeville. Estupendo em Cabaré, supremo aqui. E não poderia ser diferente. ”O Show Deve Continuar,” trata da pretensa filmagem de uma peça a estrear. Os investidores, produtores, qual abutres, rondam ao artista, que cercado por ex-esposa, filha, e amantes, prepara novos bailarinos, para novo “parto artístico,” enquanto desesperado, por bloqueio criativo, pressões as mais variadas, consome medicamentos, fuma desbragadamente, e copula amiúde, com todas as que consegue agarrar. A montagem do show segue, com direito a ensaios, flash back, imagens oníricas em que a morte, composta por Jéssica Lange, dialoga com Roy Scheider, travestido de Bob. As imagens em flashback, com direito a mãe, bailarinas de boate, cenas televisivas e todo um passado de luta, dão liga, para o caos que se avizinha, o choque cardíaco do coreografo, que mesmo internado não para de imaginar sua obra, que em cena sobreposta, aparece negociada para outro diretor, enquanto os produtores, chegam a conclusão de que ela dará mais lucro, se não estrelar. Trata-se de um musical travestido de biografia, ou de um “documentário” musical. É tudo isso, e mais, a abertura a cargo de George Benson cantando “On Broadway” é fantástica! O final, com Bob-Roy, despedindo-se dos amigos, em meio ao show final de sua vida, é perfeito. Cinco indicações ao Oscar. Quatro estatuetas. Uma antevisão do seu próprio fim, que ocorreria em mais alguns poucos anos, e pronto. Bob Fosse devolveu a magia dos musicais, dos diálogos irônicos, da atuação de bons atores, de uma direção mais do que correta.
           Fiquei pensando no tempo que gastei vendo integralmente a tantos filmes, e bastaria um, para que sentimento de completude, indagações mentais, satisfação, revisão de cenas, músicas ainda ribombando na memória, aquelas coisitas, que só a verdadeira arte proporciona, tivessem me alcançado.

Nenhum comentário: