Páginas

Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A Ética no Trabalho

Falar de trabalho cansa. Cansa mais por sabemos que o trabalho sempre foi um termo pejorativo. Não se vai ao trabalho, vamos à luta, a batalha, não se trabalha, rala-se, ou pior, trabalho em termos racistas, “hoje é dia de branco”.
Falar da Ética no trabalho então, Meu Deus! Vivemos ainda o período Industrial. Habitamos firmemente a esse período que cada vez mais, tende a desaparecer no horizonte, nada fictício das novas tecnologias. Mas ainda estamos aboletados em suas franjas.
A Ética do trabalho segue a esse desenho. Nasceu em fábricas, moldou-se no gotejar das exigências trabalhistas das fábricas. Nossa carteira de trabalho a bem pouco tempo, trazia em sua primeira folha, um texto que precozinava o quão bom seria possuir uma assinatura só, apenas a chancela de uma empresa em suas páginas; comparavam-nos, a “abelhas.” Isso, também morreu. A morte do ultrapassado, como as regras de Ética outorgadas de cima para baixo, no chão das fábricas. Desejos patronais, sindicais, vontades esdrúxulas de ditaduras, desejos Estaduais, Federais, Municipais.
E entramos na Nova Era. A era da subjetividade. A ética do trabalho sofre então sua mais grandiosa mutação. A possibilidade de escolher entre produtos infinitamente variados alimenta o desejo, que é muito humano, de se sentir diferente dos outros, em vez de igual. O novo humano quer cada vez mais ser único e inigualável.
Outro aspecto sério é a desestruturação do espaço/tempo. O Tempo é nossa neurose. Possuíamos o tempo certo, o lugar específico. O amor ocorria de noite, as compras à tarde, a diversão em um bairro, e assim por diante. Agora todas as nossas ações podem ser feitas a qualquer momento, hora ou lugar. Chegamos ao ponto de poder fazer sexo pago intercontinental. Usos mentalidades e sentimentos separam-se dos lugares e dos horários.
Como a ética dos novos tempos vai lidar com o “overtime”? Exigência do chefe, dependência psicológica? O trabalho diminui, mas as horas em que ficamos nele aumentam. E os estímulos criativos que só se recebe fora do trabalho? Como ser criativo trabalhando 12 horas por dia?
A nova ética vem lidar com isso. O tempo menor que se gasta no trabalho, a vaga que sobra sendo preenchida por outro que também precisa trabalhar. O segundo emprego que pode advir disso. Pela primeira vez no mundo, mudar a organização do trabalho, pode significar mudar a organização de toda uma existência.
Como ainda estamos presos na era da indústria, mesmo vivendo em plena Cyber cultura, sofre os miasmas do passado. Em sua grande maioria, empresas de serviço mantêm milhões de pessoas num regime de baixo nível das ideias, utilizando só as suas capacidades executivas, fazendo com que se envolvam de tal maneira com a burocracia, que elas acabem perdendo a capacidade de inventar e se tornam robôs. Prejudicando a eficiência e a competividade da empresa que acredita ter uma maior produtividade, quanto maior for o tempo que seus funcionários passarem nos seus escritórios, enquanto a verdadeira eficiência é medida com base em ideias produzidas em capacidade criativa.
Um ambiente criativo consiste na ausência de restrições à criatividade, na presença de uma liderança carismática e num clima de entusiasmo que fecunde as ideias. Enquanto nas organizações baseadas na burocracia, as ideias são sufocadas.
Como se processará essa nova ética, de um mundo lento e não esquemático, levando-se em conta que velocidade tem a ver com a era da Indústria; e que velocidade significa capacidade de conquistar terreno em relação aos outros em amargas disputas de espaço?
Esse o desafio que a nova ética do trabalho deverá enfrentar, pode ser traduzido na frase de Bill Gates: “Aqueles que assimilarem as novas categorias projetarão o futuro para os demais.” Nossas novas necessidades não são mais claras e fortes: são constituídas por um mosaico de pequenas necessidades, porém todas importantes.
A nova ética substituirá a luta de classes? Transformará o ambiente de trabalho em um ringue de honestas disputas, entre conscienciosos colegas de trabalho que não se digladiarão?
Posicionando-se frente a isso, o embate entre pensadores do novo. De um lado Richard Sennet e Domenico de Masi. Os dois estudiosos da época imagética, volátil e cibernética em que estamos aboletados. Só que um preconiza as facilidades, as maravilhas que se avizinham o outro, mostra os vãos morais do trabalho da nova era.
Da Nova Era visualizamos em cores, as profundas mudanças da técnica, do ensino, da arte, do sexo, da sociedade. Abandonamos a muito a visão masculina da era Industrial. O mundo não é mais gerido apenas por homens e suas vontades enlutadas.
No Trabalho, ultrapassamos o ideal Taylorista do bom executivo. Estética, Ética, emoção, moderação, emotividade, são vistos agora como visões e sentimentos preferenciais e necessários para quem trabalha.
Mesmo assim, debatemo-nos ainda com a luta talvez eterna de estabelecer um novo paradigma para o trabalho, uma nova ética do trabalho.
“O Cyberspaço abriga zonas de sombra. A identidade de sua população é improvável, cambiante” diz a escritora Rosika Oliveira, e a verdade também é o do balançar do ideal do livre comércio.
Sabemos que é o comércio o grande alavancador de mudanças. É ele que nos traz e força novidades. A falta de comércio, de bens, de circulação de produtos, de novidades, afeta a sociedade das cidades. Afeta o dinheiro circulante, eclode em problemas sociais.
O termo Globalização como teoria de livre comércio, acabou. Embasbacados, observamos a medidas protecionistas numa guerra mundial visando vencer batalhas de grande porte, onde os mortos e feridos, são contados mais facilmente no terceiro mundo, que também ganhou nova formatação. Relatório da OMC, conclui que o alto desemprego nos países desenvolvidos fortalecerá os que defendem o fechamento dos mercados e o isolamento de produtos e trabalhadores estrangeiros. Países como Índia, Indonésia e China, economias relativamente fechadas, mostram forte ritmo de crescimento, porque administram duramente a velocidade de abertura e as áreas em que farão negócios, numa assimilação a teorias econômicas que se pensava extintas, a das áreas lucrativas sendo energizadas e as outras abandonadas. Imaginem esse espectro de teoria econômica num país de dimensões continentais como o Brasil?
“A população do cyberespaço que se delicia no anonimato, se quer também inimputável, sem lei, sem superego, sem tabu.” Pensam viver a uma revolução, um nome cintilante que serve a qualquer coisa. Gestão revolucionária de pessoas, o produto medicamentoso revolucionário, a nova teoria psicanalista, o novo ensino, tudo hoje em dia tem sabor revolucionário, mas qual o que, continuamos embarcados na mesma era com uma diferença apenas: a palavra revolução.
“As balizas do tempo e de espaço, não vigoram no cyberespaço. O lugar do interlocutor é indefinido, o tempo pode ser inventado, relativizando essas dimensões com que sempre trabalhara o pensamento, na ideia mesma do real”.
Viveremos mudanças permanentes, mas infelizmente, nem sempre prazerosas ou emergentes. O privilégio do tempo é a mudança vertiginosa pela qual passou e continuará passando o trabalhador, os ofícios que nos sustem.
“Ninguém sabe o que está por vir. As empresas no mundo inteiro debruçam-se sobre o enigma. Nada está decidido previamente, como nunca antes, foi. É preciso ter humildade de ouvir que acha quem consome, e agilidade para alterar o que já parece bom. É nesse caldeirão de incertezas que se cristalizará nova ética trabalhista.”
Estamos condenados a mudança permanente. Entre o que Sennet e De Mais pensam, existe ou subexiste, um caldeirão de ações passadas e gestos que devem desencadear um futuro. Futuro ético com toda a certeza.
A grande literatura de ficção científica do começo do século vinte até 1950, não conseguiu imaginar a força que teria a matéria plástica. A imaginação do homem não vislumbrou o poder que continha uma invenção humana.
A ética do trabalho de século 21 está aí. Esperando ser alocada. Será ímpia como a de Sennet, com seus grupos jogando falsamente com informações e pior, relações humanas.,ou profundamente organizacional participativos e influentes como em Di Masi?

O Brasil mantém o bom potencial. Que o futuro nos responda.