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Bem Vindo!

"Todas as tentativas de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias e mentiras."
(H. Hesse).

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Doce Som da Ilusão

           Às vezes penso que deveria ter alertado minhas filhas, contra uma das maiores armadilhas frente à outrora imorredoura, prática do casamento. Avisá-las, de que tudo que no namoro foi sinônimo de enlevo, tudo que no namoro nos leva  a uma carinhosa atenção, pequenas manias cotidianas, daquelas que forçam os apaixonados a promoverem a um “biquinho” e passarem a tratar-se no diminutivo, aquelas maniazinhas, como: adorar tomar leite morno ao deitar, coleção de autorama, figurinhas, discos vinil, gibis, futebol sexta à tarde, etc. seriam causa de uma fulgurante surpresa.
            Claro, que também deveria ter comentado com meus genros, que aquelas doces e sensíveis maniazinhas, cândidas marolas do dia, como: comer iogurte com fandangos, preferir meias com desenhos infantis a qualquer outra etc. Pois é, tudo aquilo que adorávamos na época do namoro, aquelas coisitas banais, serão as que mais "odiarão" depois de casados. Esqueci, nada disse, também, pra que? Além de cego, o amor permanece um bom tempo, mouco, melhorando do mal, aos poucos.
            Enquanto lembrava disso, olhava minha coleção de cd’s, subindo em estantes pela parede e das discussões, homéricas, que tive com minha esposa acerca deles.
            Jovem, habitei numa época em que a música pop, estava sendo elevada a categoria de maior importância na “indústria cultural”.  Em 68, a indústria que supria os consumidores essa arte, vomitava toneladas de plástico e papelão, por sobre nossos longos cabelos, hirsutos pelos, penugens, encaracoladas madeixas, desesperadas calvas incipientes e tudo o mais. Renegar era então a palavra de ordem, não importava ao que, onde, ou quando, renegar isso sim, era importante. E claro, no vácuo, vieram guerras e tudo o mais, pois os mais velhos, sempre e por toda a eternidade, preferiram jogar seus jovens à morte a ter de enfrentar um afrontamento, querelas, discussões, vocês sabem, nada mais de direita... E a natureza odeia o vácuo, e o preenche com algo. Assim, vieram em seguida as discussões raciais, as urgências feministas, as pendências trabalhistas, os partidos extremistas, todos os “istas” da espécie. Nada mais de esquerda, as guerras continuariam, pois é de nosso feitio matar e sermos mortos.
            A África logo ali, nossa pátria segunda, com suas tribos incivilizadas e a época, e agora ainda, diversos países a sujeitá-la, de Cuba a França, da Inglaterra a Tio Sam, empobrecedor foi pouco.
            Perguntas esbaforidas, e o "kiko"? Respondo mais tranquilo, nada a ver...
            Pois é, o que soa agora como ainda importante é que a música que foi o motor de toda uma discussão, criação, vertente, baliza, motor, urgência pragmática, e, e, e, e, nada mais é agora do que simulacro, movimento, esquema, negócio, fantasia, sombra, lembrança midiática.

            Como, Umberto Eco, já havia escrito “A difusão dos bens culturais, mesmo os mais válidos, quando se torna intensiva, embota as capacidades receptivas” e segue, “...trata-se, porém de um fenômeno de consumo.” Claro como água, como dia de verão.
            Incrédulo, vejo em letras que seriam garrafais, se garrafas ainda subsistissem que a boy band de Pop Restart fará um show dia... Gargalho a bandeiras despregadas, banda de Pop no país do ritmo, Restart? Meu Deus, onde estais que não respondes?
            Garotos com pinta de desnutridos e famélicos, a gorar uma rima Tati-bi-tati- vazia a respeito do nada enquanto vazio, há sentido? Se não, não olhem para mim, são eles a ombrear com os Deuses e semideuses do Pop.
Pois agora é assim. Quanto tens? Tens muito? Uma parte fica outra parte é o quinhão. E jaz! SUCESSO!
            Retorno de iniquidades, a volta dos que nunca foram... Lagartixas que se querem dinossauros, bandas de um disco, que baixam mais downloads do que Led Zeppelin, hippies, de última hora, como precursores, calangos túrgidos, como artistas, o nada pelo nada, a lugar algum.

            Consumimos a música baixada, capada do principal, QUALIDADE! Do Arranjo equidistante, ao aviso bombástico de que são apenas 192 kbs, 160kbs, 128kbs, 95kbs, migalhas... Pérolas aos porcos, células da origem, milho ás galinhas da cultura. Não importa se aquela guitarra não á a original, se a bateria parece oca, se o coral rouco, ou a gaita difusa... Essa é a nova música.
            Música comprimida sempre terá perda. A perda será nas pontuações do gráfico. Música em gráfico é como um eletro, as pontas vão para o espaço, em acordo ao número de bits comprimidos. O volume foi capado, o agudo tornou-se frigir, o baixo é um buraco? Menos de 128 kbs tens no laço. Se parece estar bem, mas o som é de rádio FM, 192 KBS, têm no baço. Se tudo parece perfeito, e ao fechar os olhos, não sentes embaraço, podes ter certeza, 320kbs, tens no pedaço.
            Bom mesmo é o flac, esse é perfeito. Mas poucos têm de seu. Infelizmente é a performance da discórdia, a soma das incertezas, o desconhecido, pouco frequentado. Enquanto isso seguimos, não compramos, não ouvimos, nada que estorve, pouco que mude. Eric Clapton em sua “bio” diz que 85% da música pop atual, é lixo. Creio que foi muito bondoso em suas colocações.
            Houve tempo, meu amor, (não evito a repetição da frase, mas atente ao derradeiro ato), que o som total foi o mais importante, montava-se mesmo a mesas de som em casa, para divisão igualitária do ruído música, e pagava-se caro, muito caro. Hoje em MP3, resta-nos o frangalho.
            Antes o estúdio preocupava-se com a média de som por canal, hoje, priorizam ao grave. Sabem que será em pífio aparelhos de reprodução que se ouvirá aquela música, então por que melhorar a alquimia? Que soe como lata ao agudo, como cavernoso ao baixo, dê volume enorme á tudo, e estamos conversados. Não se vendem mais aparelhos de reprodução fina, amplificadores e equalizadores. Mesmice. Tudo são igualdade e rebotalho.

Então porque avisar minhas meninas, das sanhas da vida?
Que elas se acomodem nas fímbrias da doce ilusão.
Mas vale uma arte sentida, que uma falsa mesura da vida,
Mais, muito mais importante é a visão estendida,
Sobre uma pseuda iluminação.
          E estamos conversados.














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